São Paulo, domingo, 2 de abril de 1995
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Caem compras na faixa popular

SUZANA BARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

As altas taxas de inadimplência, o comprometimento da renda com prestações e remarcações de preços (o Real acumula inflação de 27,11%) estão funcionando como um freio no consumo das classes mais populares.
Nos cálculos da Associação Comercial de São Paulo, a inadimplência cresceu 150% em março deste ano em comparação com o mesmo período de 94.
Vanderlei da Silva, dono da Della Volpi, loja de móveis no largo de Pinheiros (zona oeste), diz que a inadimplência média subiu de 2% das vendas para 7%.
"Reajustei meus preços em 5% para tentar reverter o prejuízo e estou muito mais rigoroso para conceder crédito", conta Silva.
Segundo ele, são muitos os consumidores que aparecem na loja para negociar novos prazos de pagamento e até querendo devolver a mercadoria porque não têm como pagar a prestação.
"Essa classe social calcula a prestação no limite, já pensando no 'bico' que vai fazer. Mas quando o cálculo está errado, eles não têm como pagar."
O camelô Narciso Carvalho, diz que o movimento começou a cair depois do Carnaval. "As pessoas estão sem dinheiro. Gastaram muito no Carnaval e no crediário", afirma.
Como exemplo de queda de movimento, Carvalho fechou sua barraca às 17h30 na quarta-feira passada. O normal é trabalhar até às 20h. "Não compensa ficar. Ninguém compra." Sua barraca vende cigarros (R$ 0,10 a unidade) e bonecas importadas (R$ 5).
Antonio Roberto Gil, subgerente das Casas Pernambucanas de Pinheiros, diz que o movimento caiu em fevereiro e março. A explicação, afirma, é que as pessoas assumiram compromissos e agora não têm folga no salário para fazer novas compras.
Nelson Barrizzelli, professor da FEA/USP, diz que o consumo da classe baixa está caindo desde janeiro em consequência do endividamento do Natal.
"Mas é uma depressão conjuntural. A classe baixa não perdeu o seu poder aquisitivo, já consolidado em um novo patamar", afirma o professor.
Segundo ele, o consumo deve voltar a crescer em até três meses. "O salário mínimo será reajustado em maio, as prestações do Natal terão vencido e a população voltará às compras."
Nauda Menezes, gerente da F. Negrão, loja de confecções também do largo, diz que o reajuste do mínimo pode até alavancar as vendas. Mas até lá, a precisão é de queda de movimento. "Estamos baixando o preço e mesmo assim não vendemos", conta.
"O plano está voltando para trás e o jeito é a gente deixar de comprar", diz o segurança Francisco Romualdo dos Santos.
Santos conta que novos bens de consumo, como a TV a cores que ele comprou em parcelas para a filha, iogurte e bolachas recheadas deixaram de entrar em sua casa há dois meses. "As coisas estão subindo aos poucos, mas o salário não", afirma.
Firmino Rodrigues Alves, presidente da Associação Paulista de Supermercados, diz que o setor já detecta um aumento da venda dos produtos da cesta básica em detrimento de bens considerados supérfluos.
"O consumidor tem o mesmo dinheiro. Se ele está comprando mais arroz e feijão é porque está cortando outros gastos", diz.

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