São Paulo, domingo, 2 de abril de 1995
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Fim de festa

LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

O ajuste da balança comercial passou a ser a prioridade um da agenda econômica do governo. As mudanças no mercado internacional de capitais a partir do colapso mexicano e da crise argentina não deixaram outra alternativa.
A questão ideológica por trás da abertura comercial de nossa economia foi substituída pela sobrevivência do Plano Real.
Para entender a natureza do problema cambial, o analista tem que equilibrar conhecimento técnico com um entendimento mais profundo da psicologia do brasileiro como agente econômico. Talvez não exista no mundo exemplo mais perfeito de individualismo e falta de apego a valores passados.
As decisões de consumo alteram-se do dia para a noite em função principalmente de seu bem-estar. Por outro lado, as perdas da poupança durante passado recente ensinaram as pessoas a transformar em gastos todo ganho real de renda.
Foi isto o que aconteceu com a abertura comercial do segundo semestre de 94. Em especial com os automóveis e os produtos da linha branca. O contato com os produtos mais modernos produzidos no Primeiro Mundo levou o consumidor brasileiro à loucura.
A importação de automóveis em 1995 caminhava para a marca de 500 mil unidades. Algo entre US$ 8 bilhões e US$ 9 bilhões no período. O déficit total de nossa conta de comércio passaria de US$ 10 bilhões.
Não restou ao governo outra saída senão a de taxar muito estas importações. Os riscos de aumento de preços nestes itens produzidos pela indústria local e um sinal de novo fechamento de nossa economia tiveram que ser assumidos.
O caráter emergencial e passageiro deste novo tributo procura diminuir a sensação de volta ao passado. O aumento dos preços só pode ser evitado por uma postura responsável de nossa indústria e a redução do nível de consumo interno.
Caso isso não aconteça, o governo pode ficar em situação delicada. Tanto pelo impacto sobre a inflação quanto pelo mal-estar que a falta de produtos e o sentimento de que estão sendo roubados vão gerar em muitos consumidores.

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