São Paulo, domingo, 2 de abril de 1995
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Escândalo sexual em banco oficial divide britânicos

LOLA GALÁN
DO "EL PAÍS

Na segunda-feira, 20 de março, Rupert Pennant-Rea, o elegante vice-diretor do Banco da Inglaterra, deixou de comparecer a uma reunião especial organizada pela assessoria de imprensa do banco para melhorar sua imagem perante jornalistas estrangeiros.
Ele enfrentava uma tarefa mais árdua. Sobre a mesa de seu escritório, a última edição do "The Financial Times" reproduzia em suas páginas internas a história contada no dia anterior ao "Sunday Mirror" por sua ex-amante Mary Ellen Synon.
O prestigioso diário financeiro resumia uma história de amor que durou três anos e cujo capítulo final aconteceu sobre o chão acarpetado do Banco da Inglaterra. Pennant-Rea sentou-se para redigir sua carta de demissão.
Mais uma vez as forças da ordem imutável, ressuscitadas pelo premiê John Major, decidido a manter a vida pública britânica a salvo de escândalos amorosos, ditavam sua sentença: demissão.
O infeliz vice-diretor se via obrigado a fazer as malas e abandonar o reduto seleto em que penetrara em 1993, procedente do setor privado.
Pela primeira vez no longo histórico de escândalos sexuais que salpicaram os sucessivos governos conservadores em 16 anos de exercício do poder, uma espécie de clamor generalizado se ergueu contra a demissão.
A imprensa arremeteu contra os critérios morais do país, dedicando vários artigos à análise de até que ponto esse tipo de escândalo é pouco importante na França, na Espanha ou na Itália.
Os amores de Pennant-Rea, 47, jornalista educado no Trinity College, em Dublin, e Mary Ellen Synon, 44, também jornalista, formada na mesma universidade, haviam sido o grande assunto de fofocas do Banco da Inglaterra até abril do ano passado, segundo o "Financial Times".
Comenta-se que no Banco da Inglaterra a revelação não causou surpresa entre os altos funcionários do banco.
E tampouco a carta que chegou às mãos do ministro da Economia, Kenneth Clarke: "Caro ministro: com grande pesar me vejo na obrigação de lhe apresentar minha demissão".
Clarke não queria aceitá-la. Tampouco Eddie George, convencido de que o talento profissional de Rupert Pennant-Rea merecia uma segunda oportunidade.
Mas em Downing Street, a ótica era outra. E o cidadão comum, aquele que aguenta as deficiências do transporte público, que paga altos impostos e tem assistência médica cada vez pior, esboçou um sorriso de triunfo ao ver o ex-vice-diretor abandonar seu elegante escritório de Threadneedle Street.
Tradução de Clara Allain

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