São Paulo, domingo, 2 de abril de 1995
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Seria Nostradamus infalível?

ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES

Os últimos cinco anos foram marcados pelo crescimento de um amplo movimento e uma farta literatura a respeito do meio ambiente. Pomposamente, os ecologistas de hoje falam não só em defender a natureza mas até em "salvar o globo terrestre".
Expressões de impacto como essa têm se multiplicado nos livros e na mídia. Em contraste, vemos a Terra cada vez mais ameaçada. Este ano de 1995 marca meio século do bombardeio de Nagasaki e Hiroshima. As bombas ali jogadas são hoje consideradas de potência baixíssima. Mesmo assim, a devastação foi total.
Já era hora do mundo olhar para trás, avaliar bem aquele pavoroso estrago e abandonar de uma vez por todas essa mania do ser humano de construir artefatos para destruir a si próprio. Infelizmente, os números mostram o contrário. Até pouco tempo, os países mais belicosos gastavam US$ 1 trilhão por ano em armamentos. Nos Estados Unidos, isso chegava a 7% do PIB; na Rússia e na China, 14%; na Líbia, 18%; na Arábia Saudita, 24%; e em Israel, 29%.
Com o fim da Guerra Fria, os investimentos também esfriaram. Mas, os estoques de armamentos continuaram enormes. Existem no mundo, atualmente, 50 mil bombas nucleares que equivalem a 13 bilhões de toneladas de TNT. Estão disponíveis 45 mil aviões de combate; 170 mil tanques de guerra; 160 mil peças de artilharia pesada e mais de 2.000 navios e submarinos. Há ainda 275 toneladas de plutônio sendo que a "ninharia" de 150 quilos daria para espalhar câncer de pulmão à toda humanidade. O mais grave é que se acaba de descobrir a existência de 70 mil toneladas de gases venenosos, como o usado no Japão na semana passada.
A descoberta foi apavorante. Esses gases, além de matar, fazem muito pior: eles têm um poder fantástico de ferir, paralisar e inutilizar as pessoas -tornando-as mortas-vivas. Em Tóquio, alguns miligramas de "sarin" -um gás fabricado no tempo do Hitler- mataram dez pessoas e feriram 5.000. Os alucinados suicidas possuem armas biológicas ainda mais letais. Um grama de enzima produzida por uma nova variedade de bactéria mortífera é capaz de matar 17 milhões de pessoas! É um poder de destruição inconcebível.
Mais do que nunca, o planeta Terra continua sendo um lugar muito perigoso para se viver. Como impedir a sua destruição? Nós os amantes da natureza, das flores, dos peixes e dos pássaros, o que podemos fazer para salvar o globo terrestre? Até que ponto o controle do chamado efeito estufa, das camadas de ozônio e outras elucubrações engenhosas podem se contrapor ao poder destrutivo do gigantesco arsenal de armamentos que continua no mundo atual?
Os números acima parecem indicar a necessidade de uma urgente revisão nos valores e pretensões dos dois grupos. Os que estocam armas para destruir a humanidade terão de ser levados a entender a inutilidade de seu gesto. Os que querem proteger a natureza terão de compreender os limites de sua generosidade. A humildade não fará mal a ninguém. Oxalá Nostradamus esteja redondamente equivocado...

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