São Paulo, domingo, 2 de abril de 1995
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Teilhard de Chardin

CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO - Arrolar defensores e adversários de Teilhard de Chardin talvez seja um anacronismo, mas o tema continua atual para os ateus de boa vontade que não merecem a paz na Terra e muito menos a glória nas alturas.
Não deixa de ser curioso o time a favor: Huxley, Camile Arambourg, Malraux, Toynbee, Senghor, Duhamel, a lista seria grande e eclética, gente à esquerda e à direita. A turma do contra é mais homogênea e fácil de catalogar. O padrão continua sendo o finado cardeal Ottaviani, que mandou e desmandou no Vaticano durante muitos anos.
Do contra, também, o jesuíta Charles Boyer, homônimo daquele ator francês que apesar de careca arrancava suspiros de Marlene Dietrich e Ingrid Bergman. Estudei nos compêndios desse tal Boyer, um autor que escreve um latim muito bonito e fluente, mas superficial no que interessa. Na hora dos nove fora eu precisava apelar para o rombudo Remmer, um alemão de latim áspero mas que era um doce em matéria de expor ou desdobrar um pensamento.
Volta e meia, quando estou desimpedido, gosto de ler ou reler sobre Teilhard de Chardin. Agora mesmo, no embalo de uma gripe que me apanhou, reli o "La Pensée du Pere Teilhard", de Henri Lubac, edição Aubier. É um convite, talvez mais do que isso, é um apelo.
Ao longo dos últimos anos, algumas pessoas costumam me indagar se afinal eu aceito ou não as teorias de Teilhard. A resposta é: ainda não. Pensando bem, é uma resposta bem típica do sistema teilhardiano, que numa simplificação radical poderia ser resumido -segundo exegetas maiores de sua obra- na afirmação de que Deus ainda não existe, uma vez que ele se autolimitou à própria criação, sendo eixo e flecha da evolução.
O diabo é que, depois que já se teve a estrada de Damasco, depois do raio que nos fez cair do cavalo, não é qualquer trovãozinho que nos obriga a mudar o rumo. Bem verdade que a tendência é ir para a frente, em cima ou em baixo do cavalo. O importante é não ir para os lados.

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