São Paulo, segunda-feira, 3 de abril de 1995
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Carlinhos Brown procura sua África

CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Não foi à toa que o percussionista Carlinhos Brown incluiu dois senegaleses entre os convidados de seus shows, no Heineken Concerts. Ao lado de Youssou N'Dour e Habib Faye, Brown pretende resgatar suas raízes africanas.
"A minha África é um lugar muito puro e eu estou buscando essa pureza atualmente", diz o compositor baiano, que se apresenta sexta-feira, em São Paulo, e sábado, no Rio.
Em ambos os shows, Brown terá ainda como convidados dois recentes parceiros: o compositor Arnaldo Antunes e o guitarrista e produtor norte-americano mezzo-brasileiro Arto Lindsay.
Desde a semana passada, Brown tem ensaiado diariamente com dez músicos, que inclui o violoncelo de Moreno Veloso (filho de Caetano), o sax de Rowney Scott e muita percussão.
Mesmo assim, o irreverente baiano pretende que boa parte de seu show seja improvisado. "Você aprende muito com o espontâneo. É aí que se encontra a alma da pessoa", justifica.
Para Brown, "os shows no mundo andam muitos organizados". "Quando você quebra isso, todos viram músicos, inclusive a platéia. Não gosto de shows pasteurizados, que mais parecem desfiles militares", afirma.
Por essas e outras, Brown ainda não sabe exatamente o que vai mostrar no festival. Com Youssou, pensa tocar sua "Covered Saints", inspirada em um desfile carnavalesco de Joãosinho Trinta.
Ao lado de Arnaldo, a escolha deve cair sobre "Doce do Mar", primeira parceria da dupla, que homenageia Dorival Caymmi. Já para o duo com Habib Faye, Brown escolheu "Charles Anjo 45", de Jorge Ben Jor.
João Bosco
Já o mineiro João Bosco -anfitrião das noites de quarta (no Rio) e sábado (em São Paulo)- planejou minuciosamente seus espetáculos. O que não impede que eles contem com muitos improvisos.
Afinal, os convidados de João sempre conviveram com o jazz. É o caso tanto do baixista John Patitucci e do saxofonista Paulo Moura quanto de dois brasileiros que hoje vivem nos EUA: o percussionista Paulinho da Costa e o pianista César Camargo Mariano.
"A linguagem jazzística oferece muita eficiência para realizar idéias. Ela tem sido uma associação bastante enriquecedora para a minha música", reconhece João.
Segundo o cantor e violonista, seu show será "uma extensão natural" do que tem vivido. "Música brasileira com um olhar girando ao redor do mundo", resume.
Em diferentes formações, João planeja tocar várias composições próprias, incluindo "Gagabirô", "Odilê Odilá", "Holofotes" e a inédita "Deu Urubu", um samba com sotaque de "soul music".
Já para os duos que formará com seus convidados, João escolheu alguns clássicos da MPB: "Tico-Tico no Fubá" (de Zequinha de Abreu), com César; "Desafinado" (de Tom Jobim), com Patitucci; "Espinha de Bacalhau" (de Severino Araújo), com Moura.
"Outra vantagem de você trabalhar com a linguagem jazzística é poder fazer as coisas em cima da hora. Esses músicos costumam aceitar qualquer desafio."

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