São Paulo, quinta-feira, 6 de abril de 1995 |
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Europa do Leste vence o Novo Mundo
MATINAS SUZUKI JR.
A estratégia do Fernão Capello Gaivota do Milan era conhecida desde o Império Romano: muita marcação a partir da linha demarcatória do seu território e contra-ataques rápidos. E a legião estrangeira da Nova Ordem Mundial funcionou: Massaro, Savicevic, Boban e gol. O futebol frio e objetivo do Milan, mais uma vez, está pertinho da final da Copa dos Campeões da Europa. A constelação italo-croata-montenegrina fulminou a liga franco-brazuca-liberiana, na guerra do fut do Velho Mundo. Com a ausência de gols em terras germânicas, a casa holandesa do Ajax também dá um passinho para ir à final. Depois de longa ausência, os times holandeses voltam ao primeiro plano do futebol europeu. O veterano Rijkaard poderá enfrentar o clube italiano que defendeu durante muitos anos. O futebol e a música têm mesmo mais afinidades eletivas do que se supõe. Lembrei aqui e na minha crônica da TVA que o gesto comemorativo do Marcelinho lembrava o heliscóptero da cantora Elis Regina. E lembrei-me do heliscóptero por duas razões: primeiro, porque o poeta, produtor cultural e grande letrista da MPB Waly Salomão mencionou o heliscóptero em uma conversa de poucos meses atrás. Segundo porque passou (injustificadamente) meio batido pela Folha a data em que a Elis completaria 50 anos. (Quem pensava que a contribuição da Elis para a música brasileira havia acabado com a sua morte, que veja o trabalho que seu filho João Marcelo faz na forma de musicais para a televisão). A primeira vez que vi a expressão "heliscóptero" foi no fundamental (para mim e para minha geração) livro de Augusto de Campos, "Balanço da Bossa". Bem, a coisa morreria por aí. Morreria, porque o nosso mestre da bola de papel (meu e dos Titãs), Alberto Helena Jr., lembra que ele talvez tenha escrito o primeiro texto falando do "'heliscóptero". Foi na revista "Cruzeiro", à época dos famosos shows do teatro Paramount. Segundo o nosso mestre helênico, a coisa começou com a Elis imitando o gesto dos pescadores puxando a rede no "Arrastão", e depois evoluiu para o girar de braços esticados. Taí: dos braços da Elis para os braços do Marcelinho, uma história de abraços entre a música e a bola. O futebol japonês é meio nipo-brasileiro. As estrelas da constelação do gol nascente, quase todas, são daqui do patropi. Ontem, um encontro musical nipo-brasileiro: o craque Jaquinho Morelenbaum, hospedando Caetano Veloso e o quase nipo-brasileiro Ryuichi Sakamoto. O coração desta coluna está sempre dilacerado entre a bola e a música. Ontem, deu a música. Depois eu te conto. Texto Anterior: 'Efeito Orloff' atinge futebol Próximo Texto: Espinosa escala hoje Palmeiras da goleada Índice |
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