São Paulo, sexta-feira, 7 de abril de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Garota dormiu em barraca e comeu biscoito

DA REPORTAGEM LOCAL

A estudante Lisa Bárbara Bick, 24, foi libertada ontem no Terminal Rodoviário do Tietê (zona norte) por volta de 18h40 sem que a família pagasse o resgate, estipulado em R$ 500 mil.
Ela foi sequestrada na última terça-feira à noite, quando chegava em casa, no Morumbi (zona sul), após voltar da ginástica.
Três homens armados com revólveres abordaram o Tipo preto de Lisa, placas CAB-9400, quando ela entrava na garagem. Sua mãe, Aila Franco Bick, 48, que abria a garagem para a filha entrar, também foi rendida.
Os sequestradores entraram então no carro da estudante e a levaram para Mairiporã (35 km de São Paulo).
Lisa é filha única do piloto norte-americano Theodore Bick, que mora nos EUA. Ela vive com a mãe, que administra imóveis. Seus pais são separados há 19 anos.
Segundo Damon Franco, tio de Lisa e responsável pelas negociações com os sequestradores, a estudante foi bem tratada durante o cativeiro e não sofreu qualquer tipo de agressão.
A polícia foi avisada do sequestro por Franco, na própria terça. Ele entrou em contato com dois policiais amigos da família que levaram o delegado Maurício Guimarães, titular do Deas (Delegacia Anti-Sequestro), até a casa da estudante.
As negociações com os sequestradores foram feitas por Damon, sempre com a orientação do Deas.
No último contato, feito às 16h de ontem, ficou acertado que o resgate seria pago em Mairiporã. Segundo Franco, os sequestradores eram "desorganizados".
"Hoje (ontem) à tarde recebi dois telefonemas, de pesssoas diferentes, para acertar os mesmos detalhes do resgate. Eles estavam perdidos."
A polícia acredita que os sequestradores liberaram Lisa sem o resgate porque ficaram com medo de serem capturados durante o pagamento.
"Acho que o sequestrador que saiu para telefonar demorou para voltar. Aí os outros se apavoraram e resolveram soltar a Lisa logo", disse Franco.
Ele ficou sabendo que a estudante havia sido libertada quando estava no carro, a caminho de Mairiporã para pagar o resgate.
"Lisa ligou para casa para avisar que estava livre. A polícia me avisou pelo telefone celular. Foi muita sorte", contou Franco.
Durante as duas noites no cativeiro, Lisa ficou presa numa barraca no meio do mato em Mairiporã. Ela só se alimentou de biscoitos e não tomou banho.
Em depoimento, prestado ontem à noite na sede do Deas, Lisa disse que só sabe que o cativeiro ficava perto de uma ponte.
Ela não quis falar ontem com a imprensa."Lisa está bem e mais calma do que se pode imaginar. Mas viveu momentos de tensão e precisa descansar", disse o tio.
Segundo Franco, Lisa disse que no início do sequestro achou que fosse morrer. "Ela é muito equilibrada e isso ajudou a enfrentar a situação."
A família da estudante pediu que o sequestro não fosse divulgado. Seguindo norma do "Novo Manual da Redação", a Folha não publicou a notícia. O item "razões de segurança" afirma que o jornal pode omitir informação cuja divulgação coloque em risco a segurança pública, de pessoa ou de empresa. Esse foi o primeiro sequestro do ano em São Paulo.

Texto Anterior: Usuário reclama de atendimento nos Correios
Próximo Texto: Governo vai firmar convênio com Anistia
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.