São Paulo, sexta-feira, 7 de abril de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

A respeito de Holmes

WILSON BALDINI JR.

No boxe não basta o lutador ser jovem, ter velocidade nos punhos e bom preparo físico. É preciso ter determinação, garra e raça.
Em 1986, um amigo de 17 anos despontava como um dos maiores destaques deste esporte. Era dono de um dos mais potentes ganchos de esquerda e 105 quilos somente de músculos.
Nas primeiras lutas como amador, atingiu a glória acumulando nocautes contra adversários sem nenhuma expressão. Chegou a reclamar que não tinha companheiros de treino à altura.
Foi atendido. Um novo sparring foi chamado. No primeiro dia de treinos mais fortes ocorreu o despertar de um perdedor.
Displicente, baixou a guarda e um forte direto de direita lhe proporcionou dupla fratura no nariz.
Fui visitá-lo no hospital e o inevitável aconteceu: nunca mais usou uma luva de boxe.
Guardada as devidas proporções, este também é o defeito dos atuais lutadores "top" da categoria dos pesos-pesados.
São desleixados. Tiveram oportunidades sem merecer, pois a categoria não possui um fenômeno.
E disso se aproveitam George Foreman, 47, e também Larry Holmes, 45. Aliás, amanhã, Holmes tem chances de conquistar o título do CMB ao enfrentar Oliver McCall, em Las Vegas.
Holmes está velho, lento e sem preparo. Mas não se deve desacreditar de um homem que ficou 48 combates invicto (quase bateu o recorde de Rocky Marciano, 49 lutas sem derrota) e só perdeu devido à colaboração dos juízes, que deram a vitória para o inexpressivo Michael Spinks, em 85.
Holmes, além de ter uma técnica refinada (ostenta o apelido de professor) e muita experiência (22 anos de profissionalismo), tem personalidade e merece respeito.
Não vai se entregar fácil. É verdade que foi aniquilado por Tyson, em 88. Mas enfrentou o lutador melhor preparado fisicamente de todos os tempos.
Três anos depois, ganhou o direito de disputar novamente o cinturão ao vencer a eterna promessa Ray Mercer. Detalhe: quebrou a mão nos treinos e não adiou a luta.
No ano seguinte perdeu, por pontos, para Evander Holyfield. No final, mostrando sua superação, chegou a vomitar em seu córner ao deixar o ringue.
Talvez para o boxe uma vitória do jovem McCall seria melhor. Mas para os que gostam deste esporte e admiram os verdadeiros campeões, sem dúvida, a torcida é por Larry Holmes.

Texto Anterior: Volta de Oscar só traz ganhos ao basquete
Próximo Texto: Notas
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.