São Paulo, sexta-feira, 7 de abril de 1995
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A prisão de Canhedo

A prisão de Canhedo
Ainda que de pouca duração, a prisão de Wagner Canhedo, presidente da Vasp, causou surpresa. A população, já farta de ver denúncias comprovadas que não têm consequências, cada vez mais perde confiança na aplicação da lei.
Canhedo foi preso por não ter pago uma dívida com o Banespa. Embora seja a figura mais conhecida, não é um caso isolado de mau pagador punido pelo Estado de São Paulo. Consta que outros empresários em débito com o fisco paulista já estão sendo punidos, prova de que se vem aplicando um rigor no mínimo inabitual na questão.
A punição de sonegadores de impostos sem dúvida tem um valor exemplar que não pode ser menosprezado. O mau exemplo da impunidade pode levar muitos contribuintes a tentar o risco de imitá-los. Punindo-se os sonegadores, essa tentação no mínimo diminui.
Porém, a punição adotada, mesmo que efêmera, era absolutamente inadequada. Esta Folha tem defendido sistematicamente que a pena de prisão deve ser reservada apenas aos criminosos que ofereçam risco físico à sociedade.
Não é, evidentemente, o caso de Canhedo, como não era o caso de PC Farias, outra personalidade escolhida para dar satisfação à opinião pública. Para esse tipo de delinquência, o ideal seria uma pesada punição pecuniária, além da obrigatoriedade de cumprir algum tipo de serviço comunitário.
Não se trata de defender um privilégio. Mas a última grande punição exemplar - a de Paulo César Farias - dá bons elementos para uma análise mais aprofundada, agora que a sagrada indignação parece ter se acalmado.
Depois de uma fuga rocambolesca, PC foi recolhido à prisão. Sua imagem como presidiário satisfez o clamor popular e se erigiu em símbolo de uma nova era em que a impunidade desapareceria. No entanto, pouco se falou sobre a devolução daquilo que ele devia aos cofres públicos. Privado de liberdade, não sofreu uma pena branda. Sofreu uma pena inadequada.

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