São Paulo, sexta-feira, 7 de abril de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Relações Brasil-EUA: um testemunho

JOSÉ SARNEY

As relações entre o Brasil e os Estados Unidos alcançaram um padrão de maturidade que as coloca em uma nova dimensão. Ao longo dos anos 70 e 80, vivemos a fase final de uma profunda transformação na sociedade, na economia e no modo de inserção internacional do Brasil.
De um país agrário, praticamente monoexportador e eminentemente rural nos anos 30, passamos a ser uma sociedade urbanizada, uma economia industrializada e altamente competitiva em alguns setores manufatureiros.
Ao mesmo tempo, começamos a desenvolver de forma autônoma algumas tecnologias avançadas, como a nuclear e a espacial, indispensáveis ao nosso desenvolvimento econômico e social.
Mudamos, e era apenas uma consequência natural dessa mudança que se alterassem também os termos das nossas relações com os nossos principais parceiros, com os quais ampliamos os nossos interesses comuns, mas também passamos a competir não apenas no nosso próprio mercado e em terceiros países, mas nos seus próprios mercados.
Com a volta e a consolidação da democracia no Brasil, a partir de 1985, ganhamos uma força nova no plano internacional, vencendo as hipotecas deixadas pelos anos de autoritarismo e dotando-nos dos instrumentos políticos necessários para resgatar a hipoteca social que ainda nos resta equacionar e pagar.
Era natural que as tradicionais relações entre o Brasil e os Estados Unidos passassem por uma acelerada evolução em função dessas alterações ocorridas no Brasil.
Como presidente da República, de 1985 a 1990, tive o privilégio de poder dar uma contribuição a esse processo, então inadiável, de atualização das relações Brasil-Estados Unidos.
Quando compreendemos que não necessariamente a diferença setorial de interesses e visões deve afetar a totalidade do relacionamento, começamos a moldar uma nova fase das relações bilaterais.
Afinal, percebemos, o Japão, a União Européia e até o Canadá têm diferenças de variada natureza com os Estados Unidos, e nem por isso o quadro global do seu relacionamento é carregado de sinais negativos que se contaminam e proliferam.
A oportunidade foi a visita de chefe de Estado que fiz a Washington, em setembro de 1986. Nossa tônica era reconhecer que podíamos divergir porque compartilhávamos um amplo espaço de convergência e de interesses comuns.
Muito tempo ainda se passaria até que a semente lançada em 1986 frutificasse. Era natural que assim fosse.
Hoje, com a maioria dos problemas bilaterais resolvida ou bem equacionada, estamos de fato vivendo uma nova era das relações Brasil-Estados Unidos, que o presidente Fernando Henrique terá a oportunidade de consolidar com a sua próxima visita a Washington.
Ele encontra o caminho aplainado para trazer a sua contribuição pessoal nessa história de convergências e de amadurecimento que começou com Rio Branco e para a qual muitos contribuíram depois.

Texto Anterior: O cobertor é sempre curto
Próximo Texto: O pesadelo da casa própria
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.