São Paulo, sábado, 8 de abril de 1995
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Núcleo da frente vem da UDR

LUCIO VAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Frente Parlamentar Agrícola se preparou durante seis meses para a batalha da derrubada do veto do ex-presidente Itamar Franco.
Na véspera da votação, a frente diz que tentou negociar mas não foi recebida pelo governo.
A articulação dos parlamentares ruralistas começou após a aprovação da lei que criou a URV (Unidade Real de Valor), em maio de 94.
Um veto do então presidente Itamar anulou uma emenda que determinava que os preços mínimos e os financiamentos agrícolas fossem corrigidos pelo mesmo índice (equivalência preço-produto) e não mais pela TR (Taxa Referencial).
O núcleo da frente surgiu da bancara ruralista, criada há cerca de quatro anos por líderes da UDR (União Democrática Ruralista). Entre esses líderes, estavam os ex-deputados Ronaldo Caiado (PFL-GO) e Jonas Pinheiro (PFL-MT).
A bancada ruralista, com cerca de cem membros, era formada por parlamentares de partidos como o PFL, o PPR, o PP, o PTB e o PMDB. Partidos de esquerda não participavam.
Os articuladores da frente procuraram fugir desse estigma, ampliando o seu leque de atuação. Procuraram até os partidos de esquerda.
A eleição de 94 retirou muitos dos seus líderes do Congresso, entre eles Caiado. Mas chegaram novas lideranças interessadas em organizar a frente.
Na formação das comissões técnicas, a frente entregou a presidência da Comissão de Agricultura ao PT. Ganhou adeptos no partido. O coordenador-geral da frente, deputado Nelson Marquezelli (PTB-SP), impediu uma candidatura de parlamentares ligados à UDR.
Nas eleições para lideranças dos partidos, a frente lançou candidatos. Marquezelli assegura que seis líderes de partidos integram a frente. Em dois meses, o grupo elegeu coordenadores por partidos e por bancadas, chegando a 140 membros.
Passou a realizar reuniões periódicas, às terças-feiras, no Espaço Cultural da Câmara. Mesmo não sendo recebidos para discutir especificamente o veto, os líderes ruralistas aproveitaram sempre os encontros com o presidente Fernando Henrique para reivindicar a equivalência preço-produto.
Ficou combinado entre os parlamentares que a frente seria instalada formalmente assim que o veto de Itamar Franco fosse colocado em pauta. Isso ocorreu há uma semana.
Certos da sua força em plenário, os líderes da frente enviaram cinco faxes ao chefe de gabinete de FHC, Francisco Grazziani, solicitando audiência com o presidente.
"Nem resposta deu", reclama Marquezelli. Ele disse que também não foi recebido pelo líder do governo no Congresso, Germano Rigotto (PMDB-RS).
Na votação, os líderes da Frente procuraram o líder do governo na Câmara, Luiz Carlos Santos (PMDB-SP). Foi ele quem negociou a aprovação da emenda que garantia a equivalência preço-produto, em 94.
Naquele episódio, Santos garantiu aos ruralistas que a área econômica do governo manteria a emenda. Os ruralistas aprovaram a lei e dizem que foram traídos pelo governo. Na votação de anteontem, Santos deixou a Câmara quando o veto entrou na pauta.

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