São Paulo, sábado, 8 de abril de 1995
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Guilherme Vergueiro faz tributo ao samba no Heineken Concerts

CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

No ano passado, um papel semelhante coube ao mestre Paulinho da Viola. Na edição 95 do Heineken Concerts, o samba voltou a receber uma justa homenagem, desta vez liderada pelo pianista Guilherme Vergueiro.
O paulista radicado nos EUA cumpriu sua promessa. Transformou a anunciada "Noite do Instrumental e do Jazz" em um apaixonado concerto de samba.
Sozinho, ao piano acústico, Guilherme introduziu o tributo de modo quase solene. Abriu seu concerto com o samba "A Mais Querida" (de Padeirinho).
Já no número seguinte, um "medley" de "Exaltação à Mangueira" (de Enéas Silva e Aluísio Costa) e "Levanta Mangueira" (de Luiz Antonio), o pianista sugeriu que sua homenagem também tinha um símbolo: a mais famosa escola de samba carioca.
E para não deixar dúvidas, ao anunciar o percussionista Laudir de Oliveira, ainda brincou: "O Laudir só tem um defeito: é da Imperatriz. Ninguém é perfeito".
Porém, mesmo que o samba tenha dominado o repertório da noite, quem foi ao Palace esperando ouvir apenas jazz, não deve ter saído decepcionado.
Afinal, com a presença do saxofonista americano Wayne Shorter, do baixista norueguês Mads Vinding e do trombonista brasileiro Raul de Souza (que viveu muitos anos nos EUA), qualquer material sonoro pode virar jazz.

Samba com jazz
Foi exatamente o que aconteceu. Sambas clássicos como "A Flor e o Espinho" (Nelson Cavaquinho) ou "Mangueira" (Assis Valente) ganharam longos improvisos, na melhor tradição do jazz.
Cada um em seu estilo, quase todos brilharam na noite. A começar do anfitrião, que além de improvisos exuberantes, mostrou seus dotes de compositor em "Nova Ilusão", um sofisticado samba com tratamento jazzístico.
Com um emocionante improviso de trombone de vara, Raul de Souza arrancou gritos da platéia, em "Rugas" (de Nelson Cavaquinho). O mesmo aconteceu após vários solos de Robertinho Silva, que vibra tanto quanto os pratos e tambores de sua bateria.
Maior surpresa da noite, Mads Vinding também deu um show de técnica e criatividade nos solos. Dedilha seu contrabaixo acústico como se fosse um violão.
O destaque negativo ficou por conta do trompetista Wallace Roney. Inseguro, o badalado discípulo de Miles Davis derrapou em "Carinhoso" (Pixinguinha).
Como se estivesse lendo a partitura pela primeira vez, o norte-americano terminou o número de modo abrupto, deixando a platéia e a própria banda perplexos.
Nada a ver com Wayne Shorter, que apesar de ter tocado muito pouco, deslumbrou a platéia com uma versão bem livre do samba "Autonomia" (de Cartola).
Uma pena que o "gran finale", com "Aquarela do Brasil" (Ary Barroso), tenha virado uma "jam session" bastante descosturada.
Mas depois do aviso de Guilherme ("Vamos encerrar a noite tocando qualquer coisa"), isso não chegou a ser surpresa.

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