São Paulo, sábado, 8 de abril de 1995
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Ruanda enterra líder assassinada

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Pelo menos 25 mil pessoas participaram ontem do enterro da primeira-ministra de Ruanda Agathe Uwilingiyimana, assassinada há um ano no início da guerra civil entre os grupos étnicos hutu e tutsi que deixaria 1 milhão de mortos.
Na mesma cerimônia foram enterrados 15 altos funcionários do governo assassinados na mesma ocasião e 200 caixões com os restos de 6.000 pessoas mortas nos massacres que se seguiram.
O enterro ocorreu um dia depois de começar em Kigali, capital do país centro-africano, o julgamento dos cerca de 30 mil acusados de genocídio que estão presos.
O julgamento foi suspenso logo depois de começar, por falta de testemunhas, e não havia ontem previsão de quando será retomado.
O presidente Pasteur Bizimungo e o vice-presidente e ministro da Defesa Paul Kagame foram ao enterro da primeira-ministra em Rebero, a 15 km de Kigali. Compareceram líderes de países vizinhos, como o ex-presidente da Tanzânia Julius Nyerere e o premiê do Burundi, Antoine Nduwayo.
Grávida de cinco meses, Uwilingiyimana foi assassinada a golpes de facão pela guarda do presidente Juvenal Habyarimana um dia depois de ele ser morto, em 6 de abril de 1994, na queda de um avião (atribuída a um atentado).
Assim como Habyarimana, a primeira-ministra era da etnia hutu, majoritária em Ruanda e no Burundi. Ao contrário do presidente, porém, ela era tida como moderada em sua atitude frente à minoria tutsi.
"Devemos enterrar os mortos, não a verdade", foi o lema repetido pelos que discursaram no enterro. O governo atual de Ruanda é controlado pelos tutsis, que tomaram o poder em julho do ano passado ao vencer a guerra civil.
Em entrevista publicada ontem pelo jornal belga "Le Soir", o vice-presidente ruandês, Paul Kagame, pediu ajuda internacional para levar à justiça os culpados pelo genocídio que estão fora de Ruanda.
Ele afirmou que muitos dos hutus que lideraram os massacres de 1994 estão refugiados na Europa -especialmente na Bélgica, da qual Ruanda foi colônia.
"Eu estou sendo acusado de genocídio. É verdade, matei 900 pessoas e espero ser executado", disse na quinta-feira Musoro Ndura, um dos sete primeiros acusados apresentados no tribunal de Kigali.
Assassinato

O jornalista sul-africano Vincent Francis foi assassinado por pistoleiros ontem no Burundi. Ele cobria os conflitos étnicos entre hutus e tutsis no país para a rede de TV britânica WTN (Worldwide Television News).

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