São Paulo, sábado, 8 de abril de 1995
Próximo Texto | Índice

José Simão ameaçado

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - Abro a Folha feliz da vida. É sexta-feira, último dia de trabalho antes de uma semana de férias. O bom humor aumenta ao chegar à página 1-5 e ao título "Jatene prova que governo 'escondia' dinheiro e leva sobras para Saúde".
Lembro-me de "Spy x Spy", a melhor das tiras da revista satírica "Mad". O governo espionando o governo para ver onde o governo esconde dinheiro do governo. Formidável. Se a moda pega, imagine o Sérgio Motta, com aquele corpinho de miss, escondido atrás das cortinas do Planejamento para ver o Serra contando o dinheiro dos impostos do dia.
Passo para a 1-7 e meu humor se transforma em incontido orgulho cívico. "Planalto usa FSE para comprar goiabada", diz o título. Que beleza. Pode não ser um investimento social, mas que é de extremo bom gosto, lá isso é. Ainda mais que se trata de goiabada cascão.
Só me irrita um pouco o tom crítico do texto. A reportagem diz que o Ministério das Comunicações comprou tampa de vaso sanitário com dinheiro do Fundo Social de Emergência. Por quê a crítica? Há algo de mais fundo e de maior emergência do que vaso sanitário?
Passo para o caderno 2. Na página 7, está lá: "BB dribla limite de três meses no crédito". É a informação de que a agência de Brasília do BB financia carros em seis meses, o dobro do prazo permitido pelo Banco Central.
Distraído, cabeça meio em férias, penso: banqueiro é fogo mesmo. Vive inventando um jeito de passar a perna um no outro. Só depois me lembro que BB e BC são ambos bancos estatais. Deveriam atuar em conjunto e não passar a perna um no outro.
Já imaginou se o Pérsio Arida, o presidente do BC, resolve espionar, como Jatene, seus colegas do BB? Ô, Pérsio, se precisar de uma mãozinha, me ofereço para uma auditoria independente na agência da calle Serrano em Madri. Não entendo nada de banco, mas Madri é comigo mesmo.
O estado de espírito feliz sofre um baque ao chegar à coluna de meu ídolo José Simão. Estava meio sem-graça ontem. Deve ser o efeito de tanta concorrência desleal. Zé, cuidado que, nesse ritmo, os homens ainda vão tomar o teu emprego.

Próximo Texto: Cadeia neles, presidente
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.