São Paulo, sábado, 8 de abril de 1995
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Cadeia neles, presidente

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA - Existe uma única resposta possível a um delinquente: processo judicial e, se culpado, cadeia. Essa a resposta que o Palácio do Planalto deve dar aos manifestantes que atacaram ontem, em Recife, a comitiva presidencial com ovos, pedras e pedaços de pau. Fora disso, abre-se um precedente capaz até de afetar a estabilidade democrática.
Não se agrediu apenas Fernando Henrique Cardoso, mas, sobretudo, um presidente eleito democraticamente. Sei que ele gosta de contemporizar e evitar conflitos, o que até certo ponto é bom. Não se deve, porém, confundir tolerância com moleza.
Delinquentes que atacam qualquer indivíduo devem ser punidos. Do contrário, nunca vão parar de atacar. O problema cresce de dimensão quando está envolvido o presidente da República. Com a sensação de impunidade, provocadores vão ser estimulados a agredir comitivas oficiais -e, cada vez mais, a repressão da polícia será dura, tumultuando o clima do país.
Daqui a pouco, malucos estão invadindo o Congresso com paus e pedras irritados com a reforma constitucional. E, óbvio, algum paspalho vai dizer que regime civil é igual a baderna -e haverá uma multidão de paspalhos dispostos a concordar.
O governo deve, agora, tentar identificar os agressores e processá-los judicialmente. E, em especial, não deve temer que tentem transformá-los em vítimas. Se a CUT tiver coragem, que defenda publicamente um delinquente que atira pedras e paus num cidadão pacífico.
Uma geração lutou pela democracia justamente para que todos tivessem respeitada sua integridade física e moral. Se um bando de delinquentes não aprendeu ainda essa obviedade, a cadeia talvez sirva como uma boa chance de reflexão.

PS - Um dos textos mais brilhantes e sensíveis que já li sobre meninos de rua foi escrito por Marcelo Coelho e publicado ontem na Folha. Ele conta o que sentiu ao dar carona a dois garotos. É o artigo definitivo sobre o sentimento de perplexidade, culpa e impotência que temos diante do massacre da infância.

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