São Paulo, sábado, 8 de abril de 1995
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Os perigos da instabilidade cambial

JOSÉ ROBERTO DAVID DE AZEVEDO

Aumentar o câmbio agora não só é desnecessário, mas principalmente inconveniente e inoportuno

Antes de respondermos sim ou não, talvez devêssemos nos perguntar se algum país tem realmente esse grau de controle sobre o preço de uma moeda estrangeira em relação à sua, ou se isso não passaria apenas de um eventual desejo. Quantos países de economias desenvolvidas, ou em desenvolvimento, têm tido sucesso em suas tentativas de interferência na determinação do preço de uma moeda estrangeira? Será que, se isso fosse possível, a paridade iene/dólar chegaria aos níveis atuais?
Com a recente eclosão da crise mexicana, levantou-se a questão da moeda de um país ficar valorizada artificialmente em relação ao dólar, agravando, assim, as distorções do balanço de pagamentos. Uma moeda valorizada estimula as importações e desestimula as exportações. O equilíbrio do balanço de pagamentos fica mais dependente da conta capital, e se esse equilíbrio for baseado em movimentos de curto prazo, ele torna-se extremamente vulnerável.
Será que a política de altas taxas de juros praticadas no Brasil não representa um atrativo suficiente para o empresariado nacional direcionar suas vendas para o exterior? Note-se que as facilidades oferecidas ao comércio exterior propiciam a possibilidade de se antecipar receitas de exportações a um custo financeiro compatível com os mercados internacionais. Esses recursos, convertidos em moeda local, podem representar significativos ganhos financeiros.
Por outro lado, temos de estar atentos para o risco de um "dumping" no preço de produtos importados, financiados em moeda estrangeira e vendidos à vista no mercado local.
É claro que a capacidade de exportação do empresariado brasileiro foi preservada em função do fenomenal aumento de produtividade da nossa indústria, evidenciado nos cada vez mais frequentes anúncios de obtenção de certificados de qualidade ISO 9000. Mas não há dúvida que a distorção da relação das taxas de juros domésticas com a internacional tem sido um fator importante para o sucesso da nossa política de exportação.
Parece-nos claro que o governo, promovendo o aumento das alíquotas de importação e mantendo sua política monetária amparada em elevadas taxas de juros reais, sinalizou que não pretende alterar o câmbio, pelo menos no curto prazo.
Todos nós reconhecemos que flutuações abruptas no câmbio geram instabilidade e incertezas com alimentação especulativa. Daí os esforços coordenados, cada vez mais frequentes, entre as nações para evitar tais flutuações, a fim de não prejudicar o clima propício ao progresso interno e ao desenvolvimento sadio das transações entre os povos.
Com as recentes medidas na área tarifária, o equilíbrio do balanço de pagamentos deve ser alcançado sem dificuldades, indo de encontro com o principal objetivo da política econômica, que é controlar a inflação. Portanto, aumentar o câmbio, neste momento, não só é desnecessário, mas principalmente inconveniente e inoportuno.

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