São Paulo, domingo, 9 de abril de 1995
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Globo domina mercado e caminha para monopólio na exploração de TV a cabo

ELVIRA LOBATO; MÔNICA SANTANA; SÍLVIA QUEVEDO; HÉLCIO ZOLINI; MYRIAM VIOLETA; PAULO MOTA; CARLOS ALBERTO DE SOUZA
DA REPORTAGEM LOCAL

Erramos: 01/05/95
O quadro publicado à pág. 1-16, da edição do último dia 9, identifica erroneamente Chapecó como cidade do Paraná, Fica em Santa Catarina.
Globo domina mercado e caminha para monopólio na exploração de TV a cabo
A Globo começa a consolidar o monopólio da TV no Brasil também nas transmissões por cabo.
O empresário Roberto Marinho, que comanda as Organizações Globo, já é sócio, direta ou indiretamente, de 42 das 70 operadoras de TV a cabo no país.
Os números são de gigantes: este é o mais promissor negócio na área de Comunicações no país.
Há um indicador preciso: o International Finance Corporation (IFC), o braço privado do Banco Mundial, acaba de conceder empréstimo de US$ 125 milhões à Globo Cabo, para instalação de 11,6 mil km de cabo (quase duas vezes a distância entre as cidades de São Paulo e Miami, nos EUA).
É o maior empréstimo já feito pelo IFC a uma empresa brasileira. A investida não não pára aí: no último dia 29, a Globopar, do grupo, lançou títulos para captar US$ 85 milhões nos mercados americano e europeu. O grosso do dinheiro arrecadado será aplicado na área de cabo.
Projeções conservadoras indicam um potencial de 6 milhões de assinantes de TV a cabo até o ano 2000, o que resultaria em receita anual de US$ 2,9 bilhões -só com assinaturas, sem contar as verbas publicitárias e as possibilidades de exploração de outros serviços.
Para se ter uma idéia do tamanho do negócio, a cifra é três vezes maior do que o faturamento de toda a rede Globo na televisão tradicional, no ano passado.
Aproveitando-se de um vácuo na legislação, que permitia a compra de concessões no mercado sem passar pelo governo (o que será mudado com a nova Lei da TV a cabo, veja à pág. 1-18), a Globo fez alianças com grupos regionais que, por sua vez, se associaram a pequenos empresários donos de concessões.
Para chegar à concentração atual, a Globo uniu-se aos outros dois maiores grupos deste setor: a Rede Brasil Sul (RBS), da família Sirotsky, concessionária da Globo, que também edita o jornal "Zero Hora", e a Multicanal, do empresário de mineração Antonio Dias Leite Neto, filho do ex-ministro das Minas e Energia do governo Médici (1969-1973).
Os três grupos atuam como um único corpo. Suas três holdings (empresas-mães) geraram empresas-filhas que se interligam e se ramificam em nove das dez capitais que dispõem de TV a cabo e nas principais cidades do interior do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo.
Levantamento feito pela Folha em juntas comerciais e através de operadoras de TV a cabo revela que as empresas independentes estão pulverizadas pelo interior do país.
O grupo Abril, da família Civita, sediado em São Paulo, é a segunda força no mercado. Comprou 11 concessões (uma em Curitiba e o restante na Grande São Paulo e Baixada Santista), em associação com o Chase Manhattan Bank (EUA) e com a Canbras Communications (Canadá).
A Abril não tem sócios locais na área de TV a cabo. As concessões de Curitiba e da cidade de São Paulo pertencem a uma empresa chamada Tevecap, da qual o Chase Manhattan detém 17% e o grupo Abril, 83%.
As outras nove concessões (Santo André, São Bernardo, Mogi das Cruzes, Cubatão, São Vicente, Praia Grande, Santos, Guarujá e Santa Branca) pertecem a outra empresa dos mesmos três sócios chamada Canbras TVA Cabo.
Segundo publicação distribuída a investidores no exterior, a Canbras Communications, do Canadá, controlaria 64% do capital total da Canbras TVA Cabo, ou seja, mais do que a soma dos outros sócios.
Ela tem 40% das ações através de participação direta e 24% através de uma outra empresa, chamada Canbras Participações (veja quadro nesta página).
Segundo o diretor financeiro da TVA, Douglas Duran, a Abril manteria o controle da Canbras TVA, apesar de o grupo canadense ter a maioria do capital. "Nós temos 51% das ações com direito a voto", diz.
Até 1992, a Globo e a Abril não possuíam nenhuma concessão de TV a cabo no país. Roberto Marinho considerava que o futuro da TV por assinatura (a que você paga para ter acesso) estava na transmissão pelo ar, via satélite, o que o levou a apostar na Globosat.
Na mesma época, o Grupo Abril apostava na TV por assinatura via tecnologia de transmissão por microondas (chamada MMDS). Investiu neste sistema em São Paulo, Rio, Brasília, Belém e Goiânia.
A TV transmitida por cabo, porém, revelou ser o grande filão de negócios do futuro, como se pode constatar através de um exame do setor nos EUA (leia texto à pág. 1-18).
A perspectiva de quebra do monopólio estatal das telecomunicações abre caminho para que redes de cabo sejam usadas na exploração da telefonia e outros serviços.
Hoje, Globo e TVA também disputam uma nova tecnologia, na qual os sinais são captados dos satélites por antenas parabólicas de 40 cm de diâmetro. Esta tecnologia, já em uso em outros países, é conhecida como "Direct Home TV" (TV Doméstica Direta).
No início do governo Collor, o Ministério das Comunicações distribuiu 101 concessões de TV a cabo (31 não estão operando).
As concessões do período Collor eram limitadas e não permitiam a geração de programação própria, apenas a reprodução do que era gerado pelas emissoras normais. Mas foram elas que originaram as atuais TVs a cabo.
Na época, o único grupo de comunicação que se interessou pelo serviço foi a RBS, que conseguiu quatro concessões em Santa Catarina e 12 no Rio Grande do Sul.
O empresário Dias Leite Neto, da Cia Mineração do Amapá, obteve concessões para a Multicanal em São Paulo e Mato Grosso do Sul.
Depois, comprou de terceiros em Goiás, Paraná e Rio Grande do Sul. A Globo Cabo (braço da Globo para os negócios com TV a cabo) detém 30% da Multicanal.
Sua ligação com a RBS se dá através de duas empresas-filhas: a DR Globo (da qual a Globo Cabo tem 40%) e a DR Multicanal (50% Multicanal e 50% DR Globo).

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