São Paulo, domingo, 9 de abril de 1995
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Corrupção, falsidade e eleições brasileiras

JOÃO FRANCISCO LISBOA

Depois dos tumultos, distúrbios e espancamentos que precederam e acompanharam a conquista e a formação das mesas, começaram as operações eleitorais sob formas variadas e distintas em cada uma das freguesias da província, posto que a matéria fosse regulada pelas mesmas leis, instruções e avisos. É que antes, durante, e depois das violências e espancamentos, a falsificação trabalhara em larga escala.
As falsificações fazem com efeito um grande se não o primeiro papel nas nossas eleições; começam no primeiro dia, acabam no último, revestem todas as formas, tomam todas as dimensões, são de todas as espécies, materiais e morais, delicadas e grosseiras, máximas, médias e mínimas, gerais, parciais e pessoais, absolutas ou relativas, recíprocas e convencionais, exclusivas e aquisitivas, de aumento e diminuição, e têm, como os papas, o poder de ligar e desligar. O que o leitor já tem visto, e o que passa agora a ver, justificará sobejamente esta classificação.
Logo no princípio temos a falsificação por meio da corrupção, da difamação, do louvor e vitupério indevidamente distribuídos, da exaltação e aberração dos espíritos. É o que se chama o falseamento da opinião, e sem isto não há eleição.
Segue-se-lhe imediatamente o falseamento do sistema, mediante a abusiva interferência do governo, que paralisa, estende, encolhe, sofisma e desnatura a lei nos seus regulamentos e avisos sem conta, expedidos segundo as exigências e interesses encontrados das facções, e por consequência variáveis ao infinito, contraditórios e repugnantes entre si.

Trecho extraído do "Jornal de Timon", de João Francisco Lisboa, editado e comentado por José Murilo de Carvalho

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