São Paulo, domingo, 9 de abril de 1995
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Fujimori deve governar com minoria

LUCAS FIGUEIREDO
ENVIADO ESPECIAL A LIMA

Cerca de 12,4 milhões de peruanos vão às urnas hoje para eleger o centésimo presidente do Peru e os integrantes do Congresso, após uma campanha eleitoral marcada por acusações de fraudes, ataques terroristas e conflito armado com o Equador.
A principal pergunta que se faz no país não é qual candidato irá chegar à Presidência, mas sim o quê fará, depois de reeleito, o engenheiro agrônomo Alberto Fujimori, 55, que lidera as pesquisas eleitorais com 53% das intenções dos votos válidos.
Dificilmente Fujimori deixará de ganhar, ainda que seja no segundo turno. No entanto, o candidato à reeleição pela frente Cambio 90 deverá tomar posse em julho sem a maioria no Congresso, ou seja, na mesma posição que o levou a dar um autogolpe dois anos e quatro dias atrás.
"É uma verdadeira incógnita o fim desta história, já que dificilmente ele irá aceitar negociar com o Congresso e, por outro lado, a comunidade internacional não aceitaria outro autogolpe, analisa o cientista político Carlos Garcia.
O principal adversário de Fujimori, Javier Pérez de Cuellar, 74, que foi secretário-geral da ONU por dez anos, tem 30% das intenções dos votos válidos.
Cuellar, que faz parte da frente União pelo Peru, pode acabar obrigando o candidato-presidente a ir ao segundo turno, mas tem poucas chances de vencer.
O próprio Fujimori acaba gerando a incógnita sobre o futuro político do Peru. Um dia diz que não irá fechar o Congresso novamente e, no dia seguinte, afirma que não se arrepende de tê-lo feito.
Pelo menos com relação à composição do Congresso, a história se repetirá. Em 1993, três anos depois de eleito, o partido de Fujimori só tinha 19% das cadeiras.
A última pesquisa do instituto Apoyo apurou que o Cambio 90 deverá mais uma vez ficar em posição minoritária na Câmara e no Senado, com 25% das intenções.
Quando, pela primeira vez, foi presidente de um país traumatizado pelo terrorismo, mergulhado no caos social e econômico e com um Congresso mais forte que ele, Fujimori não teve dúvidas.
Em 1992, considerado fenômeno político pela vitória na eleição de 1990 contra o escritor Mario Vargas Llosa, Fujimori abandonou o discurso renovador e dissolveu o Congresso com apoio militar.
A comunidade internacional protestou, e o presidente convocou novas eleições para deputado e senador. Renovados o Senado e a Câmara, onde desta vez seu partido tinha maioria (55%), foi redigida uma nova Constituição que dava amplos poderes a Fujimori.
Pouco tempo depois, sob pretexto de moralizar o país, o presidente promoveu mudanças no Judiciário e passou a ser chamado de "o imperador pelos adversários.
"Seria muito arriscado dar um palpite sobre a posição que o presidente irá tomar ao se deparar com o mesmo cenário político de sua primeira eleição, afirma a coordenadora de política do principal jornal do país, "El Comércio, Rossana Echeandia.
Segundo ela, Fujimori é totalmente imprevisível e quase sempre toma suas decisões de maneira solitária, sem nem mesmo consultar seus principais aliados.
As dúvidas sobre as intenções de Fujimori aumentaram com a denúncia feita anteontem pela OEA (Organização dos Estados Americanos) de fraude eleitoral.
Cerca de 500 atas oficiais, onde se iriam registrar os votos de hoje, foram encontradas já preenchidas na sexta-feira passada. Os beneficiários seriam Fujimori e candidatos ao Congresso pelo Cambio 90.
O secretário-geral da OEA, César Gaviria, disse em entrevista coletiva que as atas adulteradas poderiam fraudar até 100 mil votos, o que significa 0,83% do colégio eleitoral do Peru.

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