São Paulo, domingo, 9 de abril de 1995
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Eleição divide votos em família peruana

LUCAS FIGUEIREDO
DO ENVIADO ESPECIAL

A história do Peru se divide em antes e depois de Fujimori. Sua personalidade política marcante mudou de forma radical a vida de cada peruano, provocando reações apaixonadas -contra ou a favor-, muitas vezes dentro de uma mesma família.
"A cultura das pessoas está se modificando, diz Rossana Arnaiz, 28, funcionária de uma corretora de valores que pôde alcançar um lugar na elite do país depois das mudanças promovidas na economia por Fujimori.
Com um salário de US$ 2.000, considerado alto para os padrões locais, Rossana afirma que "agora há oportunidades no Peru.
"Eu pensava que o país não tinha saída, mas com as mudanças na economia agora há esperança, diz, enumerando com segurança os números macroeconômicos da virada do Peru. Rossana vota hoje em Fujimori.
Julia Beatriz Villa Garcia, 57, sogra de Rossana, tem uma visão menos favorável a Fujimori e não esconde sua raiva pelas mudanças que ele fez em sua vida.
Aposentada pelo Banco Central peruano como funcionária graduada, Julia faz parte dos que perderam com as mudanças promovidas pelo atual governo.
"Quando me aposentei, em 1991, me disseram que eu iria ganhar 75% do que ganha uma pessoa da ativa, mas hoje eu ganho no máximo 35%, reclama.
Julia recebe US$ 500 de aposentadoria e diz que, sem a ajuda financeira dos filhos, não poderia viver. Apesar disso, Julia também vota em Fujimori hoje.
"A mudança foi radical para todos, diz Cecília Garcia Larraboure, 28, filha de Julia, que analisa com mais tranquilidade como Fujimori conseguiu mexer na "sintonia fina dos peruanos.
Talvez porque ela tenha deixado o país em 1985 -quando o Sendero Luminoso atingia seu auge- e retornado em 1993, já com todas as modificações feitas por Fujimori na economia, na política e no combate ao terrorismo.
Ainda assim, a volta de Cecília ao Peru, depois de morar oito anos no Brasil, também é consequência direta da ações de Fujimori. "No dia em que cheguei a Lima, ainda no aeroporto, vi que as pessoas estavam diferentes, diz.
Hoje, Cecília irá votar para presidente pela primeira vez. Ela sabe que Fujimori vai ganhar, mas não dará seu voto a ele e nem tampouco a Javier Pérez de Cuellar.
Desta vez, quem vai tentar mudar é ela: "Vou escolher um dos candidatos independentes. (LF)

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