São Paulo, quinta-feira, 13 de abril de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Roberto Campos diz ser Pasternak dos 90

CRISTINA GRILLO
DA SUCURSAL DO RIO

O deputado federal Roberto Campos (PPR-RJ), 77, considera "ridícula e grotesca" a polêmica envolvendo a indicação de seu livro "A Lanterna na Popa" para receber o Prêmio José Ermírio de Moraes.
O prêmio dá R$ 50 mil ao melhor trabalho literário do ano e é concedido pela ABL (Academia Brasileira de Letras), com patrocínio do empresário Antônio Ermírio de Moraes, filho de José Ermírio.
A indicação do livro do colunista da Folha Roberto Campos desagradou alguns imortais (como são conhecidos os membros da ABL). "A Lanterna na Popa" foi indicado por uma comissão formada pelos acadêmicos Roberto Marinho (presidente das Organizações Globo), Rachel de Queiroz, Lêdo Ivo, Alberto Venâncio e Arnaldo Niskier.
Um grupo liderado pelo escritor Antonio Callado, 78, também colunista da Folha, preferia ver premiado "Chatô, o Rei do Brasil" -biografia do empresário Assis Chateaubriand-, de Fernando Morais.
"Não gosto do livro nem do autor. Ele tem atuação política discutível e foi ligado ao regime militar", afirmou anteontem Antonio Callado.
Para Roberto Campos, a polêmica nasceu de questões "pessoais e ideológicas". "Sou o Bóris Pasternak dos anos 90. Há um rancor contra mim, de pessoas que não leram o livro, não fizeram uma análise de seu estilo", afirmou.
Pasternak (1890-1960), a quem Roberto Campos se comparou, é o autor de "Doutor Jivago" (de 1957). Ele foi hostilizado na União Soviética por escrever livros que não exaltavam o regime socialista.
Premiado com o Nobel de Literatura em 1958, Pasternak não pôde ir a Estocolmo (capital da Suécia) receber o prêmio e foi expulso da academia de literatura soviética.
Para o deputado federal, o que está acontecendo na ABL é "o renascimento da patrulha ideológica dos anos 50".
Ele disse ter ficado surpreso com a escolha de seu livro para o prêmio "e mais ainda com a rejeição à premiação pela minoria aguerrida da Academia".
Fernando Morais, 49, autor de "Chatô", quer manter-se longe da briga. "Não é que não tenha opinião, mas por uma questão ética fico constrangido de falar sobre o assunto", disse.
Com a polêmica, o presidente da ABL, Josué Montello, decidiu transferir a votação para a escolha do vencedor da próxima semana para junho.
Montello disse anteontem que seria "uma descortesia" com Antônio Ermírio de Moraes dar a vitória a "Chatô".
Em uma das passagens do livro, Fernando Morais conta que Assis Chateaubriand publicou em seus jornais que José Ermírio de Moraes teria nascido de um caso entre sua mãe e um cangaceiro nordestino.

Texto Anterior: Esca usou guias falsas durante 15 meses
Próximo Texto: Policiais são encurralados por traficantes
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.