São Paulo, quinta-feira, 13 de abril de 1995
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Telefone perde limites impostos pelos fios

PHILIPPE BERKENBAUM
DO "LE SOIR"

O carro quebrou em pleno Saara? Dar uma ordem à bolsa por fax enquanto sobrevoa o Pacífico? Ou um telefonema enquanto beberica um bloody mary no bar da praia? Nada mais simples: tire-o do bolso ou estenda a mão. Sempre há um telefone ao seu alcance.
"Anywhere, anytime", dizem os americanos: entramos na era da comunicação em todo lugar, a toda hora.
Na era dos aviões supersônicos e do TGV, não se dá mais a volta ao mundo em 80 dias. Podem-se chamar de nômades dois quintos da população ativa mundial: as pessoas se deslocam para áreas industriais ou canteiros de obras, estradas, pelos ares, de uma cidade, de um país e de um continente a outro, para seu trabalho ou prazer...
Um século após a transmissão do primeiro sinal de rádio pelo italiano Marconi, as telecomunicações se adaptaram ao nomadismo da época. O telefone, o computador, as radiocomunicações de todos os tipos abandonaram a casa ou o escritório. Hoje, cerca de 35 milhões de aparelhos móveis (baseados em tecnologia celular que permite ao usuário se deslocar sem interromper sua comunicação) circulam pelo mundo, quase a metade nos Estados Unidos e um terço na Europa. O Terceiro Mundo e a Europa Oriental, não os deixemos de lado, são tão atrasados em cabos eletrônicos que lhes parece mais sensato e barato equipar-se em redes de radiocomunicações.
Na virada do século -daqui a seis anos apenas-, metade dos terminais para telecomunicações vendidos nos países industrializados será móvel.
Primeira técnica a fazer sucesso real antes do advento da telefonia móvel propriamente dita, os serviços de telemensagem pelo rádio se expandiram na segunda metade dos anos 80. Seus produtos: os "pagers" ou "bips", sistemas "caça-pessoas" que enviam um sinal (sonoro, cifrado ou alfanumérico) à pessoa procurada, convidando-a a responder pela rede telefônica.
Mas a concorrência da telefonia móvel é cada vez mais forte, mesmo que os "pagers" ainda seduzam.
A norma européia Erms (European Radio Message System), adotada por 18 países europeus, permitirá rapidamente o envio de mensagens longas (o equivalente a uma página de jornal) e uma transmissão quatro vezes mais rápida que a dos serviços existentes. Além disso, ela cobrirá toda a Europa.
Conhecidos há quinze anos, os simples telefones sem fio se impuseram também. Durante muito tempo confinados à casa ou ao escritório, utilizáveis apenas num raio de ação limitado (algumas dezenas de metros) em torno de um limite de rádio dito "doméstico", eles estão, por sua vez, descendo às ruas: vários países, como a França ("Bi-Bop") e a Bélgica (Citel), instalaram redes urbanas que reconhecem esse tipo de aparelho.
Eles já encontraram um sucessor potencial: o telefone de proximidade de terceira geração: o Dect (Digital European Cordless Telephone). Essa nova norma européia, conhecida de início pelos profissionais, servirá também o grande público. O arquétipo do telefone nômade dos anos 90 existe: é o telefone móvel GSM (Global System for Mobile Communication).
Enquanto se espera, tendo em vista a baixa contínua do preço dos terminais, encontrados por até 10 mil francos belgas (menos de US$ 280), o sucesso do GMS não diminui. Daqui a alguns meses, também será possível mandar fax e transmitir dados. Onde quer que a pessoa se encontre, bastará ligar ao telefone de bolso qualquer computador portátil para transmitir um fax para o outro lado do globo.
Já surgem os primeiros protótipos do que será o "comunicador pessoal" de amanhã: terminais multimídia portáteis, integrando um microcomputador (laptop ou notepad) acoplado a um telefone móvel, integrando funções de fax, transmissão de dados, secretária eletrônica ou telemensagem ("voice mail"), memória, capaz de ler palavras manuscritas para, logo logo, reconhecer a voz humana.
Mas os construtores já cobiçam o espaço: a próxima etapa será a dos satélites. Provavelmente por achar as redes atuais muito limitadas geograficamente, vários industriais arquitetam projetos grandiosos de redes planetárias de radiotelefones móveis, com pequenos satélites em órbita baixa em torno da Terra.
Os projetos em realização são o Iridium (da americana Motorola, com 66 minissatélites a 700 km de altitude), Projeto 21 (da Inmarsat, a organização internacional exploradora do sistema de comunicação marítima, com 21 satélites) ou ainda Globalstar (da francesa Alcatel, associada às americanas Loral e Qualcomm, com 48 satélites).
O Iridium está à frente. A Motorola pretende lançar os cinco primeiros satélites experimentais em 1996 e, caso obtenha sucesso, um sistema completamente operacional até 1998. Orçamento total: US$ 3,4 bilhões.
Até agora, um número de telefone estava ligado a um determinado aparelho. De agora em diante, ele estará diretamente dedicado a uma pessoa. Em sua casa, na rua, no restaurante, no carro, no trem, no avião, no estrangeiro.
Tradução de Bertha Halpern Gurovitz

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