São Paulo, quinta-feira, 13 de abril de 1995
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Chrysler recusa oferta bilionária de compra

JOSÉ ROBERTO CAMPOS
DA REDAÇÃO

Duas figuras lendárias no meio econômico americano resolveram se unir para tentar comprar a terceira maior empresa automobilística do país, a Chrysler, e fizeram uma proposta bilionária -pagar US$ 22,8 bilhões, a segunda maior quantia envolvida em aquisição de companhias de toda a história dos EUA. Mesmo assim, a Chrysler recusou.
A Tracinda, comandada pelo financista armênio Kirk Kerkorian, 77 anos, em parceria com Lee Iacocca, filho de imigrantes italianos que salvou a Chrysler da bancarrota no início dos anos 80, ofereceu US$ 55 por ação da companhia -valor 40% superior aos das cotações de mercado anteontem, de US$ 39,25.
Kerkorian fez de lances ousados sua marca registrada nos negócios. Piloto na Segunda Guerra Mundial, começou sua carreira comprando com dinheiro emprestado a Western, uma pequena empresa regional de aviação, e acabou com uma fortuna de US$ 2,5 bilhões, espalhada pelos grandes cassinos que construiu e uma participação de 10,1% no capital da Chrysler -é seu maior acionista. A participação custou-lhe US$ 272 milhões em 90. Hoje vale cerca de US$ 1,5 bilhão.
Kerkorian arranjou mais alguns milhões de dólares ao adquirir a célebre produtora de filmes MGM (Metro Goldwyn Mayer) em 69, vendê-la para Ted Turner, recomprá-la e passá-la para frente de novo um pouco depois.
Pega de surpresa, a Chrysler demorou a se manifestar. Seu presidente, Robert Eaton, cancelou seus compromissos à tarde na feira automobilística de Nova York e retornou para Detroit, sede da empresa.
À noite, Eaton recusou a oferta, dizendo que "a empresa não está à venda". Mas, por conta da oferta, as ações da Chrysler valorizaram-se 25% ontem na Bolsa de Nova York.
A montadora mostrou em 94 que era um alvo promissor -suas vendas subiram 19,7%, seu faturamento chegou a US$ 52,2 bilhões e os lucros a US$ 3,7 bilhões. Ela detém 14,7% do mercado americano e canadense.
A Chrysler consolidou-se fortemente no segmento de picapes e minivans, em franca expansão nos EUA. Entre seus maiores sucessos está o jipe Grand Cherokee.
A estratégia para a compra bilionária seria fazer a Chrysler dar um ousado salto rumo ao mercado internacional capturando um grande sócio. Ontem no centro financeiro dos EUA, Wall Street, especulava-se que este sócio poderia ser a Toyota, a Honda ou a Peugeot.
Alex Yemenidjan, dirigente da Tracinda, confirmou o objetivo. "Não temos em mente um sócio global específico, mas temos uma lista de possíveis candidatos."
Continua obscura a forma pela qual os investidores encabeçados por Kerkorian e Iacocca, aposentado da Chrysler desde 92 e hoje empresário no setor de multimídia, obteriam o dinheiro para a megaoperação de compra.

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