São Paulo, quinta-feira, 13 de abril de 1995
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Os não-consumidores

Os não-consumidores
A miséria no Brasil continua a crescer. E não se trata aqui dos três meses do governo Fernando Henrique Cardoso, mas dos últimos 12 anos. Segundo o estudo "Brasil em Foco 95", as famílias urbanas que recebem no total dois salários mínimos ou menos passaram de 8,8% da população das cidades em 1983 para 14,8% atualmente.
Cada pessoa que se encontra nessa parcela da população consome em média US$ 190,00, por ano, US$ 15,80 por mês, US$ 0,53 por dia. As famílias que percebem entre dois e quatro mínimos são mais 38,6% dos habitantes das cidades.
Esses números são projeções feitas pela consultoria Target, com base em dados do IBGE e da Fundação Getúlio Vargas. O recente impacto favorável da estabilização sobre o poder de compra dos setores de baixa renda não está computado.
Os rendimentos provenientes do trabalho informal também melhoraram um pouco a situação dos mais pobres, mas o quadro geral não se altera de modo significativo. Ele segue calamitoso.
A péssima situação socioeconômica em que vive larga parcela da população brasileira é um fato amplamente conhecido. Mas esse reconhecimento não resultou ainda em iniciativas e políticas capazes de enfrentar esse problema de modo eficaz. O paíz parece preso a um círculo vicioso que deixa a questão social sempre à margem.
Em fases de crescimento surge frequentemente o tipo de argumentação de que "é preciso antes que o bolo cresça para só depois dividi-lo". Em períodos de crise são exigidos sacrifícios que impedem a redistribuição de renda. O resultado geral é a indigência visível nas ruas das grandes cidades, o crescimento das favelas e dos cortiços, os recordes sucessivos de mortalidade infantil, a desnutrição.
Visando embasar investimentos e servir de previsão para a demanda de consumo, esses números sugerem algo óbvio: o imenso potencial do mercado brasileiro. Para além das batalhas conjunturais, o grande desafio do Brasil continua a ser transformar seus habitantes em cidadãos e consumidores de fato.

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