São Paulo, quinta-feira, 13 de abril de 1995
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Japão sem milagre

Japão sem milagre
Espera-se o anúncio nos próximos dias de um pacote fiscal e de desregulamentação no Japão.
A lógica do pacote fiscal é evidente. Reduzir impostos, aumentar os gastos públicos e lançar esquemas de ajuda às pequenas empresas são medidas de estímulo à economia doméstica do Japão. Uma economia mais aquecida significa mais estímulos às importações.
Assim, a opção por medidas de natureza fiscal visa à redução do superávit comercial japonês. Esse ajuste no comércio poderia definir uma tendência de desvalorização do iene e valorização do dólar.
Há entretanto um número considerável de dúvidas sobre a eficácia dessa estratégia. Em primeiro lugar, há quem considere o estímulo fiscal possível como insuficiente. As medidas de promoção às importações esbarram numa estrutura econômica muito regulamentada. Para que o empurrão fiscal se traduzisse em mais importações, seria preciso reformar profundamente essa estrutura, processo que leva tempo pois mexe com interesses locais ainda fortes politicamente. A reversão do desarranjo cambial exigiria medidas de impacto mais imediato.
Outra dúvida sobre a eficácia do pacote fiscal japonês está no fato de que reduzir impostos e aumentar gastos públicos significa sinalizar com um desequilíbrio financeiro do Estado. Um pacote fiscal suficientemente forte poderia levar a um maior endividamento público e a uma elevação das taxas de juros que, no médio prazo, trabalharia exatamente contra o crescimento que o pacote fiscal pretende.
A política monetária seria o mais importante contraponto à política fiscal e, em geral, às medidas que procuram alterar a situação cambial por meio de mudanças do padrão de comércio externo. O que se discute hoje em todo o mundo é se não seria o caso de o Banco do Japão reduzir as taxas de juros.
Os fluxos financeiros são hoje mais ágeis e volumosos que os fluxos comerciais. As taxas de câmbio têm portanto alta sensibilidade às relações entre as taxas de juros nos vários mercados internacionais.
Mas ainda há dúvidas sobre a disposição do Banco do Japão de reduzir as taxas de juros. Isso faz crescer o consenso entre observadores internacionais de que somente por milagre poderá o governo japonês reverter a enorme valorização do iene nos mercados globais.

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