São Paulo, quinta-feira, 13 de abril de 1995
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Viagens literárias também passam pela região

DA REPORTAGEM LOCAL

Ao longo de sua trajetória, Itaparica recebeu visitantes ilustres, como José de Anchieta, que teria morado um ano na aldeia do senhor de Vera Cruz, atual povoado de Baiacu.
Os imperadores dom Pedro 1º e dom Pedro 2º e o poeta Castro Alves também passaram por lá.
A maior ilha da baía de Todos os Santos integra ainda os registros dos naturalistas J. B. von Spix e C. P. F. von Martius, no livro "'Viagem pelo Brasil".
Eles saíram de Trieste (atual Itália) em abril de 1817, desembarcando no Rio de Janeiro em julho.
Nessa primeira viagem, passaram três anos descobrindo a geografia e os costumes do país.
Itaparica também é cenário de um dos maiores clássicos da literatura contemporânea.
O escritor baiano João Ubaldo Ribeiro, eleito em 1993 para a Academia Brasileira de Letras, escolheu a ilha e o Recôncavo Baiano como cenário de seu romance épico "Viva o Povo Brasileiro".
A ilha também é citada em várias obras do escritor Jorge Amado, como "Capitães de Areia", "Terras do Sem Fim" e "Jubiabá", entre outras.
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"A ilha de Itaparica, que percorremos não só neste ocasião, mas também outras vezes depois, vindos da Bahia, é a maior de todas as que se acham dispersas pela enseada; tem seis léguas e meia de comprimento e largura proporcional, e 4.500 habitantes, de cuja atividade dão atestado as extensas plantações de cana-de-açúcar e de fumo.
Os coqueiros prosperam aqui. (...) Produzem não só numerosos como grandes frutos, estimados pela maciez da polpa. Além deste, a mais nobre entre as espécies de palmeiras, existem, embora não tão numerosos, ainda mais outras duas de grande utilidade para os habitantes do Brasil: o dendê e a piaçaba.
A primeira, sem dúvida, de origem africana e introduzida no Brasil pelos negros, é excelente por causa do azeite extraído dos seus cocos; a última, uma espécie indígena das matas do litoral da comarca de Ilhéus e da província de Porto Seguro, é muito apreciada pelas fibras resistentes. (...)
Faz-se em poucas horas a viagem de Itaparica à capital da Baía (sic), quando o mar não está agitado, e nós fomos tão felizes na travessia, a 10 de novembro, que ali chegamos cedo bastante para evitar o calor do meio-dia, ao desembarque de nossa bagagem."
Extraído de "Viagem pelo Brasil", de Spix & Martius (Imprensa Nacional, Rio, 1938).
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"Entre as centenas, talvez milhares, de grandíssimos heróis e patriotas que povoam as plagas e a História da ilha e do Recôncavo em geral, não avulta figura tão formidanda que possa fazer sombra a João Popó. (...)
E em toda a ilha não há quem como ele se regozije, (...) o coração quase pulando fora do peito, a garganta tão estreitada que prende a fala, com as comemorações do Sete de Janeiro. Marca este dia a vitória final dos itaparicanos sobre a malta opressora. Buscavam tomar a ilha, os sicofantas, mas, ao apontarem seus navios pela orla formosa que faz face à Bahia, todas as praias se transformaram em grotões trovejantes, tal intensidade da metralha itaparicana.
Tentaram Amoreiras, foram repelidos até a facadas e pedradas; tentaram a Ponta de Areia, foram rechaçados até a murros e pontapés; tentaram a Ponta das Baleias, foram massacrados pela marujada ilhoa; tentaram o mocambo, foram dizimados por um exército de crianças e mulheres aguerridas."
Extraído de "Viva o Povo Brasileiro", de João Ubaldo Ribeiro (Nova Fronteira, Rio, 1984)

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