São Paulo, sábado, 15 de abril de 1995
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Anistia quer 'clareza' de Covas sobre massacre

DA REPORTAGEM LOCAL

A Anistia Internacional vai enviar carta "em português" ao governador paulista, Mário Covas (PSDB), pedindo "explicações mais claras" sobre o processo e o afastamento dos policiais envolvidos no massacre do Carandiru, ocorrido em 1992.
Na ocasião, a Polícia Militar esmagou motim de presos na Casa de Detenção. O resultado da ação foi trágico: 111 detentos mortos.
Durante o debate "Direitos Humanos em Questão", no último dia 6 na Folha, o secretário-geral da Anistia Internacional, Pierre Sané, disse que Covas e os secretários de Segurança, José Afonso da Silva, e de Justiça, Belisário dos Santos Jr., não foram "claros" no encontro que tiveram.
Sané perguntou se os PMs envolvidos na ação tinham sido mesmo afastados de suas funções. "A resposta não foi muito clara para mim. E tenho certeza que não foi culpa da intérprete", disse Sané.
Segundo ele, quando indagados se, durante o processo judicial, os policiais estavam fora da ativa, os secretários, primeiro, confirmaram. "Mas durante a conversa acabaram dizendo que eles não foram afastados. Por isso, vamos enviar carta pedindo maior clareza. E escrita em português".
Na verdade, PMs envolvidos na chacina ainda estão na ativa. A Anistia Internacional espera firmeza dos governos estadual e federal.
"Os defensores dos direitos humanos já conhecem o ciclo: novos políticos, novas promessas, e aí as promessas não são cumpridas e novos políticos chegam com novas promessas", disse Sané.
Para Sané, a volta da democracia ao Brasil transferiu do eixo político para o econômico a violação dos direitos humanos.
Participaram do debate, mediado pelo jornalista Clóvis Rossi, da Folha, Luíza Nagib Eluf, secretária nacional de Direitos da Cidadania do Ministério da Justiça, José Augusto Lindgren Alves, chefe de Divisão do Itamaraty na ONU, e Roberto Romano, titular de filosofia política da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Luíza Eluf disse que o governo brasileiro está dando prioridade ao caso do Carandiru e à transferência de competência da Justiça Militar para a Justiça comum nos casos de crimes de PMs em serviço.
Ela afirmou também que o governo já estuda a criação de um serviço de proteção a testemunhas e vítimas de violência.
Lindgren Alves disse que, com a democratização, o país deixou de ter a "ótica defensiva do regime militar" sobre o monitoramento da ONU na questão dos direitos humanos e assinou todos os tratados internacionais importantes.
Romano, da Unicamp, afirmou que as entidades de defesa da cidadania não podem aceitar "o papel odioso de amortecedores sociais e implementar a caridade".

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