São Paulo, domingo, 16 de abril de 1995
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Conservadorismo atinge CEBs

FERNANDO MOJICA
DO ENVIADO ESPECIAL

A onda neoconservadora que chegou aos seminários atingiu também, ainda que de forma irregular, o trabalho das CEBs (Comunidades Eclesiais de Base), principal marca de atuação da igreja progessista nas décadas de 60 e 70.
Cerca de 30 pessoas foram ouvidas pela Folha, entre bispos, padres, professores, teólogos e militantes de CEBs.
Elas afirmam que o trabalho de base foi atingido de forma indireta: com a nomeação de bispos de perfil mais conservador e com as mudanças impostas aos seminários e faculdades de Teologia.
"Onde o bispo ajuda, as CEBs vão bem", resume Pedro Ribeiro de Oliveira, 51, professor do mestrado em Ciência da Religião da Universidade Federal de Juiz de Fora (MG).
As mudanças na formação dos sacerdotes ocorridas a partir da segunda metade da década de 80 enfatizaram os aspectos espirituais e litúrgicos.
Currículo
Segundo o padre José Adriano, diretor da Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, em São Paulo, foram retiradas do currículo disciplinas como Economia Política e Ciências Sociais.
O reitor do seminário de Olinda e Recife, padre José Lins de Moura, afirma que, por lá, "não se fala mais em Teologia da Libertação".
Outra norma do Vaticano seguida pela maioria das escolas de formação de padres foi a diminuição ou eliminação das "pequenas comunidades".
Eram casas em bairros pobres onde moravam grupos de cinco a dez seminaristas.
A influência do Vaticano é também percebida pelo aumento no envio de padres para estudar na sede da igreja.
Em 1984 havia 55 brasileiros (42 padres e 13 seminaristas) no Colégio Pio Brasileiro, espécie de centro de hospedagem para os que vão estudar em Roma. Hoje, esse número é de 105 padres.
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Adversário da Teologia da Libertação, o bispo de Novo Hamburgo (RS), d. Boaventura Kloppenburg, 75, afirma que a falência do socialismo europeu foi o grande gerador da crise na chamada "igreja popular".
"Há uma crise de ideologia", diz o padre Alberto Antoniazzi, coordenador do curso de Teologia do seminário da Arquidiocese de Belo Horizonte (MG).
A derrota do petista Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições presidenciais de 89 foi, para o padre Luiz Costanzo Bruno, de Nova Iguaçu (RJ), um marco do desencanto de muitos militantes com o trabalho de base. "Muitas lideranças entraram em crise", afirma.
A maior busca espiritual também afetou os redutos progressistas da igreja.
O padre Luiz Antonio Oliveira, 44, reitor do seminário Imaculada Conceição da Paraíba, em João Pessoa, fiel à Teologia da Libertação, afirma ser possível notar entre seus alunos uma maior preocupação com a espiritualidade.
Abertura
O padre José Oscar Beozzo, professor de História da Igreja, ressalta que a consciência desta busca gerou uma maior abertura temática dos teólogos da libertação.
Hoje eles tratam de assuntos como o relacionamento com as culturas negras e índias, teologia feminina, ecologia e aspectos da subjetividade e da espiritualidade humanas.
"É preciso respeitar a diversidade de sentidos que as pessoas dão à vida", afirma padre e professor do seminário de Assunção Márcio dos Anjos.
(Fernando Molica)

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