São Paulo, domingo, 16 de abril de 1995
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FHC leva a Clinton proposta de socorro a nações pobres

GILBERTO DIMENSTEIN
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Convencido de que os países ricos e pobres estão ameaçados pela especulação financeira internacional, o presidente Fernando Henrique Cardoso leva aos Estados Unidos, onde chega amanhã à noite, uma proposta: a criação de uma linha de socorro urgente às nações pobres, gerida pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).
"Faltam mecanismos adequados de controle", afirmou o presidente à Folha, em entrevista por escrito. "Em uma economia globalizada, esses fluxos podem acarretar perturbações não só nos países em desenvolvimento, mas também nos desenvolvidos".
Por trás da proposta, estão efeitos da crise do México que atingem não o Brasil, mas os Estados Unidos. O mundo apavorou-se quando o México viu-se sem recursos para quitar seus compromissos.
Os reflexos da crise se fizeram sentir desde os países da Ásia até a Europa. Na América Latina, a Argentina entrou em primeiro lugar na lista de futuras vítimas.
Esse é o principal ponto do que Fernando Henrique chama de "agenda positiva" entre os dois países. Segundo ele, como a "agenda negativa" foi aliviada de "controvérsias" (dívida externa, combate ao narcotráfico, questão nuclear, direitos humanos), é mais fácil propor uma ação comum.
"A perspectiva brasileira não deve se limitar à pauta antiga de reivindicações de país devedor ou sem horizontes de crescimento", afirmou o presidente.
Detalhada pelo ministro da Fazenda, Pedro Malan, ex-funcionário graduado do Banco Mundial, a proposta será apresentada nos vários momentos dos cinco dias da viagem presidencial. O que se quer são garantias contra o chamado "hot money", investimentos financeiros de curto prazo.
Além do presidente Bill Clinton, Fernando Henrique vai ter encontros com os formuladores da política econômica americana e chefes de organismos internacionais como Banco de Desenvolvimento Interamericano (BID), Banco Mundial (Bird) e Fundo Monetário Internacional.
"Não temos a ilusão de que as mudanças ocorram rapidamente. Mas podemos colocar o tema na agenda mundial", disse à Folha, o ministro Pedro Malan.
"Já vimos que idéias tidas como visionárias inicialmente, acabaram virando na realidade no sistema financeiro internacional."
Malan defende que o FMI destine aos países pobres uma linha já existente aos ricos. São US$ 28 bilhões disponíveis para eventuais auxílios no balanço de pagamento (soma das transações financeiras internacionais de um país).
A proposta prevê que um país em dificuldade receba uma ajuda rápida do FMI e, assim, evitaria o agravamento da situação que, depois, exigiria mais recursos.
Como o fundo acompanha periodicamente as economias das nações, a entidade saberia discernir quem, de fato, merece o crédito, por uma questão episódica. Ou quem chegou à crise por falta de ajustes e austeridade fiscal (gastos públicos).
A ajuda serviria como um "recado claro", segundo Malan, de que aquele país não enfrenta risco e, portanto, não se justificaria a fuga de recursos internacionais.
Esse mecanismo está por trás de um tema que FHC vai repetir em sua viagem: rever as funções de entidades como o FMI e Banco Mundial, criados depois da Segunda Guerra Mundial, para reduzir as tensões econômicas entre países.

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