São Paulo, domingo, 16 de abril de 1995
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Bancadas estaduais inovam nas indicações

LUCIO VAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Documento obtido pela Folha demonstra que a fisiologia atingiu áreas que o presidente Fernando Henrique Cardoso prometia manter longe dos políticos. Incluíram-se na barganha cargos do Banco Central, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Receita Federal.
Sem regras pré-definidas para a ocupação dos postos federais, deputados e senadores governistas adotam, por conta própria, fórmulas sofisticadas para fatiar o organograma do Estado.
O caso mais original envolve a bancada do Paraná. Experiente na negociação de cargos desde os governos José Sarney (85-90) e Fernando Collor (90-92), o deputado Basílio Villani (PPR) criou um sistema de pontuação que facilitou o entendimento.
Com a lista de 42 cargos federais à disposição no Paraná, Villani ouviu a bancada e, a partir da disputa, atribuiu pontos a cada cargo. Quanto mais disputado o emprego, maior a sua pontuação.
As diretorias da Telepar, a companhia telefônica do Paraná, receberam cem pontos, a pontuação máxima. Assim, um político contemplado com uma dessas diretorias não poderá reivindicar mais nenhum posto.
Em contrapartida, alguém que seja brindado com a chefia estadual do Centro Brasileiro para a Infância e Adolescência terá direito de indicar também um superintendente do Serpro (Serviço Federal de Processamento de Dados) ou um chefe do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social).
Sob o título "Pauta de Sugestões da Bancada Federal do Paraná", o documento obtido pela Folha é detalhado. Se atender a todos os pedidos, o governo amealhará 23 votos de deputados e um de senador.
Mas nem todas as bancadas atingiram o nível de pacificação do grupo do Paraná. As duas em que há mais conflitos são a de São Paulo e a de Minas Gerais. Prevê-se que, nesses casos, não haverá acordo. O governo terá de mediar os conflitos.
Há três semanas, a despeito da ausência de acordo, o governo decidiu desalojar o pefelista Gerdal de Vasconcelos da cadeira de representante do INSS em Minas.
Nomeou para a vaga um irmão do deputado Mauro Reinaldo (PP), despertando a ira de toda a bancada do PFL no Estado. "O governo está mexendo em vespeiro", disse Humberto Souto (PFL-MG).
Embora sem a sofisticação dos paranaenses, os governistas capixabas também chegaram a um acordo. "Onde havia disputa, fizemos votação", conta o senador Gerson Camata (PMDB-ES).
Se prevalecerem as indicações feitas para os 40 cargos federais no Espírito Santo, um terço dos atuais ocupantes serão mantidos.
Sob a coordenação do deputado José Jorge (PFL), a bancada de Pernambuco já enviou ao Palácio do Planalto 21 ofícios.
"Foi uma coisa sofisticada", disse José Jorge. Todos os ofícios -um para cada indicado- seguiram ao Planalto acompanhados da manifestação de apoio dos 13 deputados e dois senadores dos partidos que apóiam FHC no Estado.
Há também indicações individuais. Um dos documentos obtidos pela Folha trata da indicação do ex-governador do Paraná Mário Pereira (PMDB) para o cargo de diretor-geral da Itaipu Binacional.
O pedido, remetido diretamente a FHC, é amparado por um abaixo-assinado encabeçado pelos ministros José Eduardo de Andrade Vieira (Agricultura) e Reinhold Stephanes (Previdência), além de 17 parlamentares do PFL, PPR, PDT, PTB e PP.
Furando os acertos de bancada, o PTB também encaminhou pedidos diretamente a ministros e ao presidente.
"A iniciativa vem amparada no valioso acervo curricular amealhado pelo nominado profissional", anota o deputado Nelson Trad (PTB-MS) na correspondência a Fernando Henrique, na qual pede por Estevam Alciati, candidato a uma vaga de diretor da Petrobrás.
Em outra carta, desta vez dirigida ao ministro das Comunicações, Sérgio Motta, Trad indica cinco afilhados para a telefônica do seu Estado, o Mato Grosso do Sul.
O líder do PL na Câmara, Valdemar Costa Neto (SP), tem uma fórmula original de encaminhar os pedidos. Ele usa cartões timbrados da liderança, nos quais escreve o nome do indicado e o cargo pretendido.

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