São Paulo, domingo, 16 de abril de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Os números falsos

JANIO DE FREITAS
OS NÚMEROS FALSOS

O Congresso não precisará revidar a acusação de irresponsabilidade que lhe fez o presidente Fernando Henrique, justamente quando Câmara e Senado vêm exibindo atividade e presenças surpreendentes. Ao Congresso bastará dar o cenário da resposta, prevista para depois de amanhã, quando afinal serão conhecidos os números verdadeiros da Previdência, apurados por auditores do Tribunal de Contas da União.
Embora as maneiras sempre diplomáticas do presidente do TCU, Marcos Vilaça, protejam o governo de um ataque frontal, as conclusões contábeis que ele está convocado a revelar à Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara vão, com certeza, resultar em um desgaste a mais para o governo. E atingindo não só o ministro Reinhold Stephanes, o que já é normal, mas o próprio Fernando Henrique.
Marcos Vilaça determinou a ação do TCU a partir de evidências proporcionadas por auditores da própria Previdência. O resultado da investigação é grave: foram inverdadeiras as alegações de Fernando Henrique e de Stephanes para justificar o veto, em janeiro, à correção do salário mínimo. As contas verificadas desmentem que a Previdência sofreria o rombo de R$ 4 ou R$ 5 bilhões, se sancionado pelo presidente o projeto de reajuste aprovado pelo Congresso (foi, lembra-se?, o salário mínimo que Fernando Henrique vetou enquanto aprovava a anistia dos que usaram a gráfica do Senado com fins eleitorais). Haveria perda, mas a dimensão invocada para justificar o veto era falsa, segundo a auditoria.
Os desdobramentos lógicos desta conclusão vão se dar em diferentes planos. Na Previdência, se as cifras de janeiro eram inverdadeiras, as atuais também devem ser desacreditadas, pela razoável coerência com aquelas. No Congresso, fica fortalecida a tendência para desmembrar o reajuste do mínimo e as medidas para aumentar a arrecadação da Previdência, postas pelo governo no mesmo projeto e por ele pretendidas em conjunto.
Para Fernando Henrique, o desgaste de suas alegadas intenções sociais promete ser pesado. Tanto mais que ele acusou de demagogos, levianos, e do que mais lhe ocorreu, os que aprovaram o reajuste em janeiro e os que criticaram o seu veto. Destes hoje se sabe que, pelo menos, não usaram de falsificação.
Os ilusionistas
Cada integrante do governo e cada grande empresário que chega do exterior tem, invariavelmente, uma entrevista engatilhada sobre o interesse que o Brasil está suscitando nos grandes investidores estrangeiros, graças ao real e à confiança no novo governo.
Os dois fatos concretos sobre tais investimentos referem-se, ambos, a novas fábricas de automóveis. No primeiro, mês passado, a Toyota comunicou que sua nova montadora, cuja instalação no Brasil foi insinuada pelo presidente Fernando Henrique e pela ministra Dorothéa Werneck, vai ser instalada na Argentina. No segundo fato, desta semana, a Fiat comunicou ao presidente que vai investir aqui US$ 1 bilhão nos próximos anos, mas sua nova fábrica, também esperada pelo governo, vai mesmo é para a Argentina. Daqui a dois anos se verá que também o bilhão referido era só um confeito envolvendo o veneno.
Nos dois casos, o que levou à decisão foi a inconfiabilidade da política econômica, assim considerada em razão dos aumentos de impostos desmentidores do que propalavam os governantes. A Toyota, além de não engolir o aumento dos importados de 20% para 32% e logo para 70% de imposto, sentiu-se tapeada por Dorothéa Werneck. A Fiat, que celebrava o êxito dos Uno e do importado Tipo, identificou favorecimento à Volkswagen, tanto no aumento do IPI dos "populares" de 0,1% para 8%, como no imposto de importação.
Mas, com seus 15 dias na Europa "para atrair investimentos", com certeza Dorothéa Werneck logo nos oferecerá grandes notícias. Como fez com as novas fábricas de automóveis. Argentinas.

Texto Anterior: NA PONTA DO LÁPIS
Próximo Texto: Deputado ruralista é um dos devedores do BB
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.