São Paulo, domingo, 16 de abril de 1995
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Descasadas reclamam de homens afoitos

CAROLINA CHAGAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Aprender a paquerar, carregar camisinha na bolsa, dizer "não" e, às vezes, ceder não são tarefas só de adolescentes.
Mães de muitos deles enfrentam os mesmos dilemas quando, aos 30 e poucos, rompem com maridos de 15 anos e são obrigadas a voltar a sentar em bares e restaurantes sem companhia.
"É como dirigir pela primeira vez", compara a socióloga Andréa Julião, 38. "Você não sabe por onde começar, como sentar, onde pegar, para que lado olhar."
Separada há cinco anos, Andréa diz ter demorado um ano para sair de casa. "Minhas amigas tentavam me arrastar, mas eu tinha medo de atrapalhá-las nas paqueras."
O susto não diminuiu depois da primeira saída. "O namoro de hoje é muito diferente, os homens são mais ousados, mas tudo soa meio falso. Pulam-se muitas etapas para chegar logo na transa."
Andréa só conseguiu ir para cama com outro homem dois anos depois da separação. "E a história podia não ter rolado porque ele estava sem camisinha", lembra. "A sorte é que meu filho de sete anos insistiu para levar uma na bolsa. Foi a salvação."
Para a comerciante Dorotéa Dias, 36, foi mais fácil voltar a sair sozinha depois de acabar um casamento de 12 anos.
"O complicado foi me acostumar com os caras que transam uma vez e não aparecem mais", diz. "Os namoros de adulto começam com um teste sexual. Só depois de uma noite as pessoas avaliam se a coisa vai dar certo ou não."
A psicanalista Rogéria Martins, 40, especializada no comportamento feminino dos anos 90, acha que as mulheres separadas muitas vezes vão com muita sede ao pote ao iniciar novos relacionamentos.
"Os homens, quando começam a namorar, ficam mais tranquilos e produzem mais no trabalho. As mulheres perdem rendimento, tendem a misturar as coisas e, muitas vezes, a meter os pés pelas mãos."
Alguns dos homens disponíveis no mercado concordam com a psicanalista.
"Prefiro as mulheres com menos de 30 e sem filhos", afirma o empresário José Inácio de Oliveira, 46, que foi casado por onze, tem três filhos e hoje está saindo com uma garota de 23.
"Não gosto de mulher que tem história para passar uma noite inteira se lamentando."
Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) confirmam a preferência do empresário. Os levantamentos mostram que a tendência dos homens entre 30 e 40 anos é se casar com mulheres mais jovens do que eles. Segundo o instituto, mais de 60% dos homens nessa faixa etária casaram com garotas entre 20 e 29 anos em 1990.
Na opinião do decorador Guilherme Almeida, 40, o problema é que mulheres com mais de 30 buscam ansiosamente novos maridos. "Poucas mulheres nessa faixa etária entram em relacionamentos só para se divertir. Elas querem casar. E logo", diz o decorador.
Depois de namorar três mulheres separadas, o professor de educação física Jorge Brandão, 39, também separado, resolveu investir em quem nunca viveu a experiência do matrimônio.
"Eu topo casar novamente, mas namoro com desquitada é um relacionamento de gato escaldado. A gente fica com medo de cair em nova bacia de água fria", avalia o professor.
Para evitar frustrações, a assistente social Bianca Limeira, 39, passou a recorrer à sua agenda sempre que fica carente.
"Quando comecei a sair sozinha parecia time do Telê Santana", diz. "Tinha a experiência de um mestre mas não finalizava bem nenhuma partida."
Quando ela percebeu que a maioria dos meus ex-namorados também tinham se separado a situação melhorou. "Hoje, evito problemas, só promovo revivals".

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