São Paulo, domingo, 16 de abril de 1995
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DEPOIMENTO

FÁTIMA JINNYAT

"Fui casada 15 anos. Separei-me em novembro. Tenho dois filhos. Casei sem saber muito o que estava fazendo. Cheguei a pedir o divórcio, mas não tive coragem de peitar a vida sozinha.
Como era muito mais extrovertida, os amigos ficaram comigo, mas minha relação com eles mudou muito. Hoje, por mais que minhas amigas tentem disfarçar, sei que elas têm medo de me deixar sozinha com os maridos.
Uma das coisas mais difíceis é ir à primeira festa. Adoro dançar. Quase deixei de ir a uma festa outro dia por falta de companhia. Mas fui e me diverti muito. Tive alguns probleminhas: alguns dos caras com quem dancei eram casados. Quando me dava conta, via a mulher deles brava. Os casados são os que mais assediam. Tudo é bem mais ousado do que no tempo em que comecei a namorar. É tudo mais rápido: não querem te conhecer, mas te levar para a cama.
Outro dia fui ao supermercado e vi um casal que se localizava nos corredores por um assobio. Tinham cumplicidade. Voltei para casa e chorei, porque isso é que é legal. As pessoas saem, trepam e nem sabem o nome do outro. Um homem já se aproximou de mim só por causa da minha aparência. Não interessava o que eu dizia. Ele não me escutava. Uma hora, parei de falar -me senti humilhada.
Parece um mercado. Para entrar, a receita é muito sucesso, dinheiro, beleza, inteligência. É o mundo dos vitoriosos -não tem fracassados. Mesmo que não se faça parte dele, faz-se o jogo.
As pessoas falam o que não sentem. Prometem o que não têm a menor intenção de cumprir. Conheço gente que, para não ficar sozinha, alimenta duas situações. Se uma falhar, tem a outra. Não podem é ficar só. Como ter um relacionamento hoje se sabemos que as pessoas estão fazendo todas essas jogadas? Dá medo."

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