São Paulo, domingo, 16 de abril de 1995
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Inércia do governo alimenta inflação

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Há um descompasso entre o consumo e a capacidade de produzir que será resolvido ou de forma organizada (por um política do governo) ou pela volta da inflação.
A avaliação é unânime entre os economistas ouvidos pela Folha, embora os caminhos preferidos para resolver a equação não sejam consensuais. Todos eles concordam, porém, que o governo parece imobilizado.
Como disse o ex-ministro Mailson da Nóbrega, sócio da consultoria MCM, "não há equilíbrio macroeconômico".
Sua consultoria montou um modelo. Por ele, segundo informa Roberto Padovani, só será possível gerar um superávit de US$ 5 bilhões se o câmbio chegar na paridade de um real por um dólar e se a economia se contentar com um crescimento de 4% do PIB (Produto Interno Bruto, a soma de todos os bens e serviços produzidos no país).
Mas o Brasil está crescendo, diz o economista Cláudio Contador, ao ritmo de 9% no primeiro trimestre.
"O governo caiu em uma armadilha", afirma, ao lembrar que não é possível, depois da crise do México, suprir o excesso de consumo pelo aumento das importações.
Dizendo que era totalmente previsível que a queda da inflação provocaria um crescimento do consumo, Contador afirma estar inconformado com o fato de o governo não ter criado políticas de incentivo à produção. "Errar da mesma forma duas vezes é como casar de novo."
Apesar disso, ele não crê em uma explosão inflacionária. "Ao contrário dos planos anteriores, não há congelamento. A inflação pode subir, mas nada de alarmante. O que existe é um cenário de deterioração."
Pior, segundo ele, é que o imobilismo pode estar fabricando um 1996 mais perigoso. "Como não há ainda uma política agrícola, podemos ter problemas de abastecimento."
Já o economista Eduardo Giannetti da Fonseca não descarta a possibilidade de um surto inflacionário. "O risco de uma trombada não é desprezível", afirma.
Ele diz, porém, que é preciso aguardar os efeitos das medidas adotadas pelo governo recentemente. Descartando a política de arrochar mais o setor privado -"não funciona"-, ele defende como única alternativa o aprofundamento do ajuste fiscal (cortar gastos e acelerar as reformas e o programa de privatizações).
Giannetti da Fonseca afirma que o governo está parecendo vulnerável às pressões. "É preciso criar uma situação de impasse. Lembro uma frase da ex-ministra Tchatcher, que disse que o consenso é a negação da liderança."
"Eu não consigo entender por que razão não se privatiza a Escelsa (estatal de energia do Espírito Santo)", diz Demósthenes Pinho, economista-chefe do Unibanco, que completa: "O momento é delicado, mas resta ao governo a alternativa de acelerar as privatizações. Isso melhora as expectativas e pode redundar em uma arrecadação de R$ 4 bilhões."
Flávio Nolasco, economista-chefe da Brasilpar, é mais enfático. "Não há mais alternativas de ajuste sem custo".
Para ele, o essencial é o governo recuperar, nos próximos dois meses, a iniciativa promovendo o ajuste fiscal. O passo seguinte é reduzir as taxas de juros -única forma de produzir um ajuste do câmbio "feito pelo mercado".

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