São Paulo, domingo, 16 de abril de 1995
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Valor não reflete a economia

JOSÉ ROBERTO CAMPOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O Japão é a segunda maior economia do planeta mas a força de sua moeda não corresponde a seu poderio material e financeiro. O que os mercados de moedas estão procurando há pelo menos uma década -com mais força a partir do final de 94- é um ajuste que torne a força do iene compatível com seu peso nas transações internacionais.
A cotação do iene foi artificialmente fixada pelas Forças Aliadas que venceram a guerra e visava auxiliar o país a recuperar-se da devastação da 2ª Guerra Mundial.
O Japão desbancou seus rivais na concorrência econômica nas duas últimas décadas e os números mostram isto. A cada ano o mundo inteiro compra mais de US$ 100 bilhões dos japoneses do que vende a eles.
Praticamente metade do superávit comercial de US$ 117,98 bilhões obtidos pelo Japão no ano passado foi acumulada no comércio com os Estados Unidos.
Além de montar rapidamente uma fantástica máquina de produção, os japoneses invadiram o mundo com suas mercadorias e seu dinheiro. Mas fecharam seus mercados a importações e entrada de capital externo com um cipoal de 11 mil regulamentos que o tornaram a nação desenvolvida mais insulada do comércio internacional.
A veloz globalização dos mercados cedo ou tarde tenderia a mudar esta situação. Se o governo japonês tem a soberania na regulamentação de seu mercado, pouco poder tem sobre o valor de sua moeda. O ajuste veio na forma da valorização do iene.
Mudanças estruturais costumam ser dolorosas, mas o Japão tem se preparado e reagido a elas já há algum tempo. Em 1985 o iene valia três vezes menos do que vale hoje frente ao dólar. Nem por isto o país deixou de crescer e abocanhar fatias do bolo econômico mundial.
A crise de adaptação japonesa é uma crise de crescimento. As pegadas que seguiu para chegar a seu estágio de potência econômica já são em parte um antídoto à necessidade de mudanças radicais. Tanto a produção quanto o consumo japoneses integram uma rede internacional tecida em grande parte pelo predomínio do capital nipônico na Ásia.
Hoje, 36% das exportações japonesas vão para seu "quintal asiático", contra 17% que ingressam nos EUA. Dois terços dos chips (processador de um computador, o cérebro da máquina) que a Nec, a gigante de informática, vende no mundo são fabricados fora do Japão.
A valorização do iene tem gerado ondas de migração de fábricas japonesas e uma nova onda de investimentos externos do país está em curso.
Com isto, o peso de uma rápida valorização do iene pode ser atenuado -as exportações japonesas não ficarão necessariamente muito mais caras, nem as importações muito mais baratas.

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