São Paulo, domingo, 16 de abril de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Déficit público dos EUA produz queda do dólar

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

A valorização de quase 20% do iene japonês em relação ao dólar norte-americano desde o início deste ano ocorre principalmente por causa de fatores estruturais nas economias dos Estados Unidos e Japão.
Mas o fenômeno também tem motivos de conjuntura política e de conveniência econômica de curto prazo.
As principais causas são: o déficit público nos EUA (US$ 203,2 bilhões em 1994) e o superávit da balança comercial do Japão (quase US$ 120 bilhões).
Déficits e dívidas de grande porte (a dívida pública dos EUA é de quase US$ 5 trilhões) obrigam governos a arrumar fórmulas para tapar os buracos e uma delas é desvalorizar a moeda para inibir importações.
O superávit comercial de seu país coloca nas mãos dos exportadores japoneses bilhões de dólares que são convertidos em iene, valorizando-o.
As razões políticas são: a falta de confiança do público norte-americano e dos investidores internacionais na liderança do presidente dos EUA, Bill Clinton, e a fragilidade do governo de coalizão japonês.
Apesar da economia dos EUA estar obtendo excelentes indicadores nos últimos dois anos, pouquíssimos acreditam que Clinton será capaz de manter o rumo até o final de seu governo, devido à sua baixa credibilidade.
No Japão, o governo instável não se sente seguro para adotar políticas fortes e arriscadas para conter a alta do iene.
Os elementos de conveniência são: o dólar desvalorizado barateia os produtos norte-americanos e encarece os japoneses (os EUA têm um déficit comercial com o Japão de US$ 65,7 bilhões) mas o iene forte o consolida como moeda forte internacional, em especial no mercado da Ásia.
Os governos de EUA e Japão relutam em tomar as medidas imediatas necessárias para reverter a situação, com medo das consequências a médio prazo que elas podem provocar.
Efeito recessivo
Os EUA não querem aumentar taxas de juros para proteger o dólar porque temem os efeitos recessivos. O Japão não quer cortar taxas de juros para ajudar o dólar por temer possível explosão inflacionária.
O governo japonês parece mais pressionado a agir do que o norte-americano porque os problemas imediatos provocados pela situação têm sido considerados piores no Japão do que nos EUA.
O Japão está se recuperando do pior período de recessão econômica desde o final da Segunda Guerra.
A valorização do iene está tornando mais caros os produtos japoneses e forçando inúmeras empresas a saírem do Japão em busca de custos menores.
O mercado de ações de Tóquio tem operado em baixa e os principais bancos japoneses têm cerca de um quarto de seus recursos empenhados em empréstimos de alto risco feitos ao setor da construção civil.
Para os EUA, a situação é menos desconfortável. As autoridades, a começar pelo presidente Clinton, fazem contínuas declarações de que o dólar não pode continuar caindo tanto.
Mas na prática, ninguém parece muito preocupado, nem no governo nem na oposição nem nos jornais, que dedicam pouco espaço ao assunto.
Grave erro
A desvalorização do dólar diante do marco alemão não é tão grande (cerca de 10% desde janeiro). Diante de outras moedas, o dólar está bem, o que dá a muitos a impressão de o caso do iene ser localizado.
Alguns acham que deixar o dólar cair diante do iene na esperança de que isso melhore a balança comercial dos EUA com o Japão é um grave erro.
Há pelo menos dez anos que o iene vem se valorizando diante do dólar, mas o déficit comercial dos EUA com o Japão só aumentou no período.

Texto Anterior: Estudo mostra novo perfil do setor bancário
Próximo Texto: Alemanha prevê recorde de exportação em 95
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.