São Paulo, domingo, 16 de abril de 1995
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É hora de decidir quem paga a conta do Plano Real

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois do México e do imobilismo governamental (só comparável ao das esquerdas), chegou a hora de pagar a conta do Plano Real.
O almoço grátis continua não existindo. Por enquanto, a nota fiscal percorre a mesa.
Entre olhares desconfiados, alguns já se apressam em apontar o dedo para o consumo.
O filme, que começou diferente, vai dando voltas e ficando parecido com o que já passou. E teve um fim trágico.
O ganho salarial, que não é virtual, promove o aumento da compra do que não é trivial (de comida a colchão), mas, em um cenário de desfaçatez, soa como inaceitável.
Era absolutamente previsível (menos para a nossa esquerda) que a queda da inflação seria acompanhada de ganho de renda dos assalariados, especialmente dos que não eram sócios menores da chamada ciranda financeira -e não por recessão.
Era, portanto, absolutamente previsível que cabia ao governo criar um cenário favorável (o que inclui um novo arranjo tributário) para a retomada dos investimentos -e não exatamente o de transformar o país em uma imensa Zona Franca.
O livro-texto, porém, não previa a crise do México -que implodiu exatamente um mês após o Brasil ser eleito como a "bola da vez" pelos investidores estrangeiros.
Atropelado, o governo perdeu transparência e iniciativa. Mais do que as divergências, fica nítido que o passo seguinte não será mexer no câmbio, mas na equipe econômica.
Enquanto isso, a saudável esquerda brasileira, numa manobra ousada, ressuscita até o Brizola para o movimento contra as reformas.
Tudo se passa como se o atual modelo não fosse concentrador de renda. Como se a massa dos chamados excluídos -que, como fantasmas, assombram os discursos nos palanques- estivesse contemplada. É fantástico.
Amarrada a seus pesadelos de carteirinha, a esquerda se afasta do essencial: a defesa do ganho salarial promovido pela queda da inflação, coisa que, é sabido, nem todo o governo, para dizer o mínimo, quer ou é capaz de fazer.

Hoje, excepcionalmente, deixamos de publicar a coluna de Luiz Carlos Mendonça de Barros.

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