São Paulo, domingo, 16 de abril de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

'Boy' aprende a jogar, faz contatos e vira empresário

MAURO TAGLIAFERRI
DA REPORTAGEM LOCAL

Osmar José Vieira começou a trabalhar como caddie, no Clube de Campo São Paulo, aos 10 anos para ajudar sua família.
Hoje, aos 39, é ele quem paga pelos serviços de um auxiliar todas as quartas-feiras e sábados, quando dá suas tacadas no clube que um dia o empregou.
Não se tornou um profissional do golfe, mas diz que o esporte ajudou-o a "subir na vida".
"No golfe, a gente arruma um monte de amigos, e, quando comecei a montar meus negócios, eles me ajudaram", disse.
A história do empresário começa em Ouro Verde (670 km a noroeste de São Paulo), onde nasceu. Seu pai tinha um sítio pequeno e cultivava algodão.
Depois de perder duas lavouras, devido a chuvas de granizo, a família decidiu tentar a sorte em São Paulo.
Na capital, o pai virou mestre-de-obras, e a mãe, costureira. Compraram um terreno próximo à represa de Guarapiranga, onde passaram a morar.
Filho mais velho de uma família de seis irmãos, Vieira precisou ajudar na receita.
"O clube era próximo. Quando comecei, carregava bolsas nos finais de semana", disse.
Lá aprendeu a jogar golfe. "Fiquei amigo de outros caddies. Fizemos nosso próprio campo, com três buracos."
Eles mesmos fabricavam o taco, com uma vara de ferro de construção e esparadrapo na ponta. Apenas a cabeça, de madeira, era comprada.
Dois anos depois, Vieira passou a trabalhar numa metalúrgica, como office-boy.
Foi então contratado por uma outra empresa, do ramo de mármore e granito, na qual começou como office-boy e saiu, 12 anos depois, como diretor-financeiro.
"Foi trabalhando lá que parei de pegar sacolas. Tinha 15 anos. Eu participava de um torneio de caddies quando minha mãe veio me buscar. Meu patrão estava chamando", disse.
"Ela me perguntou: 'você quer trabalhar ou ficar no golfe?'. Optei pela empresa."
A firma lhe pagou um curso técnico de contabilidade. Vieira frequentou ainda três anos do curso de administração. "Parei porque trabalhava demais."
Aos 19 anos, já estava casado. Em 1978, voltou a jogar golfe, já como sócio do Guarapiranga Golf Country Club, onde também fez contatos.
Contatos como o empresário Ismael Ferreira, que, quando Vieira deixou seu emprego e resolveu abrir sua própria empresa, ajudou-o a obter um empréstimo junto a um banco.
"Saí sem dinheiro e houve restrições para me darem o crédito. Ismael foi quem intercedeu por mim", contou Vieira.
Hoje, o empresário possui seis firmas ligadas ao ramo de mármore e granito, entre elas uma serraria em Cachoeiro de Itapemirim, no Espírito Santo.
"Um bom caddie conhece os defeitos, tiques e manias do jogador", afirmou. Ao seu caddie, Vieira paga de R$ 15,00 a R$ 20,00 por quatro horas.
"Ele deve conhecer as caídas da grama para orientar o golfista. Mas, quando erro, nunca transfiro a responsabilidade para o caddie. Ele é humano."(MT)

Texto Anterior: Eletricista leva título com taco emprestado
Próximo Texto: Liga Nacional de basquete pode ter hoje os finalistas
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.