São Paulo, domingo, 16 de abril de 1995
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Um Nobel para francês ver

ANDRÉ FONTENELLE
DE PARIS

Poucos cientistas contemporâneos são tão populares quanto o francês Pierre-Gilles de Gennes, 62, Nobel de Física em 1991.
Longe do estereótipo de cientista fechado em laboratórios, ele multiplica as aparições em público e transmite uma imagem "descomplicada" da ciência.
O prêmio permitiu a De Gennes realizar pelo menos um desejo: divulgar mais a ciência. Convidado a colégios de 2º grau, explicou seu trabalho em 150 escolas francesas.
Em uma linguagem acessível, o Prêmio Nobel explica suas pesquisas recentes com polímeros -macromoléculas que podem encadear milhares de grupos de átomos.
Elas têm várias aplicações -como aumentar a eficiência das mangueiras contra incêndio ou evitar que os carros derrapem na chuva.
Mas ele não se limita a falar de ciência. No livro, também critica o sistema educacional francês e defende, para o Terceiro Mundo, um ensino científico mais adaptado às necessidades reais de cada país.

Folha - A idéia de ir às escolas partiu do sr.?
Pierre-Gilles de Gennes - Há muito tempo eu tinha vontade de falar aos estudantes. Mas os diretores de colégios achavam que seria fazer publicidade para minha escola. As coisas mudaram quando ganhei o Nobel. A partir daí, não eram mais os diretores que me procuravam, eram os próprios alunos. As associações de alunos começaram a me escrever. Respondi rapidamente. Como também apareci na TV, foi como fogo na mata.
Folha - O Nobel mudou muita coisa, então?
Folha - É o dever de um Prêmio Nobel divulgar a ciência?
Há um preconceito a destruir na cabeça dos alunos: eles acham que para fazer ciência é preciso ser forte em matemática. Têm uma imagem totalmente errada de o que é um cientista. É muito mais importante ter senso de observação que uma reflexão teórica. Eu mostrava também que o pesquisador não trabalha sozinho; é sempre um grupo que se ajuda mutuamente. Isso lhes tranquiliza, lhes dá uma visão mais precisa da profissão.
Folha - Entre os alunos aos quais o sr. falou, acredita ter despertado vocações?
Para chateá-la um pouco, respondi: "Suas notas em educação física são fracas. É preciso praticar esportes." Ela me respondeu imediatamente: "É verdade, mas sou campeã de tênis na minha região." Uma menina tão curiosa que a fizemos visitar nossos laboratórios.
Folha - Todas as ciências podem ser apresentadas de forma interessante aos estudantes?
É uma profissão mais ingrata do que o público imagina. Nossa sorte é ter problemas da vida cotidiana. Por exemplo, mostrei aos alunos a experiência da gota d'água. Se pressionamos com o dedo uma gota d'água sobre um plástico, surgem áreas secas onde havia água: buracos secos que vão aumentando. A explicação desse fenômeno ajudou a explicar a aquaplanagem, que faz os carros derraparem na chuva.
Folha - O sr. não vê conflito entre a pesquisa fundamental e a pesquisa aplicada?
Folha - Em seu livro, o sr. critica o ensino dado nos países desenvolvidos aos futuros cientistas do Terceiro Mundo.
Folha - Ou ficam no país onde estudaram.
Folha - Como a ciência e a educação podem obter mais recursos nos países em desenvolvimento?
Folha - O sr. se pronuncia sobre vários outros assuntos. É uma exceção entre os cientistas?
Folha - Os países ricos, principalmente os EUA, dominam a lista dos Prêmios Nobel científicos. Há alguma forma de mudar essa tendência? Ou possuir os recursos financeiros para a pesquisa é decisivo?
Folha - O sr. também defende o direito aos países em desenvolvimento de explorar a energia nuclear.
A energia nuclear é viável, mas exige uma infra-estrutura sofisticada e pessoal bem formado. A fraqueza da Rússia, por exemplo, não é a tecnologia; é o operador que não respeita o regulamento, ou que bebe vodca demais. Esse é o verdadeiro perigo. A energia nuclear é incontornável, nos países com poucos recursos energéticos, mas isso exigirá um esforço considerável de educação.
Folha - Sua imagem na França é de um espírito eclético, como os cientistas do passado. Em seu livro, o sr. cita Benjamin Franklin. Que cientistas o inspiraram?
Folha - Em que o sr. trabalha atualmente?
Folha - A concorrência internacional é dura?

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