São Paulo, segunda-feira, 17 de abril de 1995 |
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'E.T.' persegue Spielberg
RICARDO CALIL
Exemplo edificante do cinema de entretenimento, o filme representa um abrigo seguro para a carreira de Spielberg. Se erra a mão em filmes como "Hook" ou "Parque dos Dinossauros", haverá sempre "E.T." para confirmar seu talento. O que, por outro lado, confere uma certa opacidade a quase tudo que ele fez depois (com a mais que honrosa exceção da série "Indiana Jones"). Porque "E.T." congrega, de maneira inigualável, os elementos que fundamentam a obra de Spielberg. Entre algumas cenas memoráveis, uma ilustra com maior ênfase os encantos do filme -quando um bando de garotos, prestes a ser capturado pela polícia, alça vôo com suas bicicletas, por obra do pequeno alienígena. Nesta passagem, há, em primeiro lugar, a tecnologia atuando a favor da fantasia -uma lógica que cinema teima em inverter. Depois, existe a grande tradição da "ideologia do liberalismo da esquerda americana", nas palavras de Cacá Diegues, ontem, no Mais!. O que, para uma cultura autocentrada, significa antes de tudo um esforço de compreensão e aceitação das diferenças. No filme, Spielberg reafirma essa crença pela história do garoto que acolhe um extraterrestre caído na Terra e o protege de policiais e cientistas, que o tratam ora como elemento de perigo ora como objeto de estudo. Entra em cena, então, a terceira grande hipótese do filme, a de que o mundo adulto carece do frescor do olhar infantil, ao mesmo tempo ingênuo e provocador. É o mesmo mal que debilita o cinema de Spielberg hoje. Texto Anterior: Filme critica cumplicidade com a mídia Próximo Texto: Ópera "sai do armário" com Harvey Milk Índice |
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