São Paulo, segunda-feira, 17 de abril de 1995
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Uma nova era nas relações Brasil-EUA

MELVYN LEVITSKY

Estamos vivendo um momento importante da história, uma época de mudanças e evolução, uma época em que o progresso rumo a sociedades mais abertas e democráticas e a economias de livre mercado irá depender da forma como adaptarmos e revitalizarmos as instituições de cooperação global e regional.
A visita do presidente Fernando Henrique Cardoso aos Estados Unidos, nesta semana, conduz nossa atenção para os crescentes vínculos e a cooperação entre as duas maiores democracias do hemisfério. Como o presidente Clinton salientou na Cúpula das Américas, em Miami, "...esta reunião simbolizou uma notável parceria entre os Estados Unidos e o Brasil". Nossos dois países enfrentam novos desafios, assim como novas oportunidades, conforme nos empenhamos para melhorar a qualidade de vida dos nossos cidadãos, apoiar a paz e a democracia, proteger os direitos humanos, beneficiar o meio ambiente com a conservação e o desenvolvimento sustentável, e para trabalhar juntos contra a crescente ameaça do crime internacional e do tráfico de drogas.
Os Estados Unidos querem trabalhar ativamente com um Brasil revigorado. Vemos o Brasil, hoje, não apenas como um país de grande potencial, mas como uma influente democracia que tem significativos interesses globais e cujos pontos de vista são importantes para nós. A visita do presidente Cardoso dará aos nossos dois presidentes a oportunidade de discutir não só nossa ampla agenda bilateral, mas também assuntos internacionais.
Temos um compromisso de longo prazo com a reestruturação e a inovação da economia para enfrentar os desafios da globalização. Um importante elemento desta agenda será a consolidação do compromisso assumido pelos presidentes do hemisfério em Miami, no último mês de dezembro, de constituir a Área de Livre Comércio das Américas até o ano 2005.
Esse compromisso em nenhum outro ponto está mais evidente do que no positivo relacionamento comercial entre o Brasil e os Estados Unidos. O comércio entre os dois países atingiu quase US$ 17 bilhões em 1994 -mais de 20% do que o volume do ano anterior- colocando o Brasil, ao lado da China, como um dos "super grandes mercados emergentes" para comércio e investimentos dos Estados Unidos.
O interesse do presidente Cardoso em abrir o mercado brasileiro para investimentos estrangeiros, especialmente as indústrias de telecomunicações e energia, acendeu ainda mais o interesse de empresas norte-americanas em buscar oportunidades comerciais aqui. O vigoroso turismo que existe entre nossos dois países também pode ser aumentado. Com esse objetivo, os Estados Unidos estão satisfeitos com a perspectiva de ambos os governos começarem, em breve, a emitir vistos de longa validade para turistas e homens de negócios.
Um exemplo da importância que o governo Clinton dá ao aprimoramento dos vínculos entre os dois países é o Acordo do Conselho de Desenvolvimento Empresarial Brasil-Estados Unidos assinado pelo secretário do Comércio, Ron Brown, e o ministro das Relações Exteriores, Luiz Felipe Lampreia. O conselho, que será formado por representantes do governo e do setor privado, vai ajudar a promover e facilitar a expansão das relações comerciais bilaterais, funcionando como um fórum de troca de informações sobre assuntos comerciais, organizando esforços de promoção comercial conjuntos e estimulando debates sobre diversos assuntos de importância para a comunidade empresarial de ambos os países.
Além da nossa forte e crescente cooperação na área comercial, estamos também atuando juntos em muitos outros campos para ajudar a resolver problemas e preocupações comuns. Por exemplo: na área de ciência e tecnologia, acabamos de assinar o Acordo da Unidade de Pesquisa Médica do Exército que cobre investigações vitais sobre moléstias tropicais, como a leishmaniose e a malária -um trabalho que poderá salvar a vida de muitos brasileiros e norte-americanos no futuro. Também propusemos um quadro para cooperação no uso pacífico da energia nuclear e outro para realização de pesquisas conjuntas entre a Agência Espacial Brasileira (AEB) e a Nasa.
A Agência de Desenvolvimento Internacional dos Estados Unidos (Usaid) executa no Brasil programas técnicos de treinamento e cooperação que custam US$ 20 milhões por ano, principalmente com ONGs norte-americanas e brasileiras. Como foi acordado na cúpula de Miami, a Usaid criou a Iniciativa Ambiental das Américas, sob a qual irá fornecer mais US$ 5 milhões para financiar atividades ambientais no Brasil, incluindo projetos de uso eficiente e de renovação de energia.
A cooperação no combate ao tráfico de narcóticos irá beneficiar-se de um novo acordo bilateral que o ministro Lampreia e eu assinamos na semana passada. Quero acrescentar, também, que estamos dando início a um diálogo mais próximo entre nossos ministros da Justiça sobre diversos assuntos legais e judiciais. Esta cooperação beneficia, particularmente, nossos dois países e, no geral, a própria comunidade internacional.
Como disse uma vez outro presidente norte-americano, John F. Kennedy, citando um antigo filósofo chinês, "uma viagem de 10 mil milhas começa com o primeiro passo". Nós, do Brasil e dos Estados Unidos, já demos o primeiro passo e, juntos, estamos avançando na estrada de uma longa e produtiva jornada.

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