São Paulo, terça-feira, 18 de abril de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Lobby ameaça coco nacional

FRANCISCO PORTO

No Nordeste, uma cultura inteira, a do coco seco industrial, vem sendo dizimada em consequência de o governo federal priorizar os interesses de grandes grupos nacionais e internacionais, a partir da abertura da economia.
Alguns deles, são, inclusive, beneficiados pelos recursos da Sudene e estímulos fiscais.
Estas grandes empresas fazem maciças importações de matéria-prima, altamente subsidiada em seus países de origem (África e sudeste asiático).
Por lá, a economia é mais frágil que a brasileira (importando miséria e exportando empregos).
Esta redução de custos fica exclusivamente nos caixas das indústrias, sem qualquer repasse ao consumidor final.
É incrível que se fale em "déficit da balança comercial" quando o país importa quase US$ 20 milhões de "sobremesa" para pessoas de alta renda, em detrimento dos empregos no campo.
As plantações de coco geram, hoje, cerca de 50 mil empregos nas propriedades.
Houve uma diminuição de aproximadamente 17 mil empregos em consequência desta concorrência desleal.
É importante ressaltar que o agricultor brasileiro não é contra as importações, e sim, contra os R$ 0,06, preço da unidade do coco importado (subsidiado), em relação aos R$ 0,25 da matéria-prima nacional (valor que não chega a cobrir os custos com a produção).
Após inúmeras tentativas de acordo com as indústrias, os produtores de coco, reunidos na Confederação Nacional da Agricultura (CNA), deram entrada em 09 de setembro de 1993 a uma petição de investigação anti-subsídio no Departamento Técnico de Tarifas (DTT), da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério da Indústria, Comércio e Turismo.
Não obstante todas as dificuldades enfrentadas pelos agricultores, o processo se arrasta por todos estes anos, apenas com a perspectiva de uma portaria, de efeito paliativo, pois os percentuais do direito compensatório (alíquota) estão muito aquém do valor do subsídio já comprovado.
Já se assiste a um surto de importação, que supera o consumo de coco industrializado no Brasil. Para completar, estes importadores passaram a trazer, também, coco seco "in natura", ocupando o último vestígio de mercado que ainda existia para os agricultores.
Alguns destes grupos, interessados em confundir a opinião pública, tentam afirmar que os produtores de coco destinado à produção industrial teriam como opção a venda destes frutos como coco verde.
Na verdade, existem duas variedades de plantas.
O coqueiro gigante, predominante na paisagem nordestina, dá o coco seco industrial.
Já o coqueiro anão (coco verde) se destina exclusivamente à produção da água-de-coco para consumo.
Outro argumento utilizado pelos lobistas das indústrias é que a produtividade brasileira está abaixo da média dos grandes produtores do mundo.
No entanto, publicações destes próprios países (Coconut Statistical Yearbook, 1992) desmentem estas afirmações.
As estatísticas apresentadas mostram uma produtividade média, obtida entre os quatro principais produtores (Filipinas, Indonésia, Malásia e Sri-Lanka), de 23 frutos/pé/ano.
É uma média inferior à brasileira, de 25 frutos/pé/ano.
É lamentável que os fatos relativos à agricultura permaneçam sem o devido respeito por parte das autoridades.
Enquanto a agropecuária produz emprego e alimento e fortalece a balança comercial, as decisões, reivindicadas pela categoria, perambulam de gabinete em gabinete sem qualquer solução definitiva.
A causa do agricultor sofre pressões de lobistas, o que influencia nas ações governamentais.
O mesmo não acontece no outro lado da moeda.
Um bom exemplo é o recente aumento das alíquotas dos carros importados, quando o governo tomou, como de costume, medidas imediatas e protecionistas em favor das indústrias montadoras.

Texto Anterior: Desaceleração; Fora do alvo; TJLP; Dinheiro do FAT; Café desamparado; Poucos negócios; Avaliação; Queda; Vegetais caem mais; Na ativa; Estoque para arroz; Menos farelo; Produtor sem pressa; ACI em Brasília; Diminui poder de compra
Próximo Texto: Agricultura diversifica para aumentar lucro
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.