São Paulo, quarta-feira, 19 de abril de 1995
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Arida diz que taxa de câmbio será mantida

CLÓVIS ROSSI
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente do Banco Central, Pérsio Arida, disse ontem à Folha que os limites da banda de flutuação do câmbio "vão durar por muito tempo".
Ontem, Arida compareceu a uma sessão secreta da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado para explicar as razões da banda e do porquê ela vai durar muito tempo.
No mês passado, o governo definiu formalmente um piso de R$ 0,88 e um teto de R$ 0,93 para a cotação do dólar comercial.
Isto significa que se a cotação da moeda norte-americana descer abaixo do piso o BC intervém no mercado de câmbio para sustentá-la.
Se ela subir acima do teto, o BC entra vendendo para derrubá-la.
Segundo senadores presentes à sessão secreta de ontem, o presidente do BC disse que os índices atuais de inflação podem tornar necessárias desvalorizações do real em relação ao dólar.
Arida explicou que a inflação interna (em torno de 2% ao mês e de 27% ao ano) é bem maior que a americana (de 3% ao ano) e que a política cambial pode precisar de "ajustes rápidos".
Os parlamentares avaliam que estes ajustes significam novas desvalorizações do real.
A idéia seria que, como a inflação interna está alta em relação à dos EUA, os produtos em dólar se tornam cada vez mais baratos em relação aos preços em reais.
Arida deixou claro que uma mudança no câmbio pode acontecer de uma hora para outra. "Não se anuncia com antecedência mudança na política cambial", afirmou, segundo parlamentares consultados pela Folha.
Arida disse, porém, que no curto prazo não há intenção de modificar os atuais teto e piso do dólar.

Inflação
Desde o Plano Real, a moeda nacional sofreu uma inflação de cerca de 30%, enquanto o dólar, em relação ao valor de junho de 94, perdeu quase 10% em valor.
Isto significa que um produto nacional que custasse um real, no lançamento do plano, estaria custando hoje R$ 1,30.
O mesmo produto, importado e com preço equivalente na época, sairia hoje por cerca de R$ 0,90.
A diferença favorece a compra de produtos importados e dificulta as exportações brasileiras.
O diretor de Assuntos Internacionais do BC, Gustavo Franco, responsável pela formulação da política cambial, costuma afirmar que o dólar não pode estar atrelado à inflação.
Ele quer dizer que o preço do dólar é um preço como qualquer outro, que aumenta quando há muita procura e diminui quando a oferta é maior.
Mas o governo já considera que será difícil continuar bancando um aumento contínuo da defasagem do dólar, em função da inflação.
Hoje, a demanda pelo real é relativamente maior do que por dólar, porque as taxas de juros internas são muito maiores do que as dos Estados Unidos.
Se o governo baixar as taxas de juros, em tese, a tendência é haver um aumento do dólar.

Colaborou a Sucursal de Brasília

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