São Paulo, quinta-feira, 20 de abril de 1995
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Brasil não convenceu investidor, dizem EUA

GILBERTO DIMENSTEIN
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

Principal responsável pela política latino-americana do governo dos Estados Unidos, Alexander Watson disse ontem à Folha que o Brasil ainda convenceu os investidores de que não é o México.
"Nosso governo está convencido de que o Brasil não é o México. Mas os empresários ainda não", disse, referindo-se ao abalo sofrido pela economia mexicana em virtude da retirada maciça de investimentos estrangeiros.
Ele afirmou que o Brasil tem uma série de fragilidades, mas todas superáveis. Uma delas é a dificuldade de apoio do Congresso. E comentou: "Mas nós também temos e são grandes".
Nos EUA, o Partido Republicano, de oposição, é maioria no Congresso. É algo parecido, no Brasil, ao PT ter a presidência da Câmara e maioria no Congresso.
Secretário para Assuntos Interamericanos, Watson disse que gostou muito de uma frase do presidente Fernando Henrique sobre a diferença entre os dois país.
No Brasil, ele teria a seu favor uma maioria desorganizada. E, nos EUA, Bill Clinton teria de enfrentar uma maioria organizada.
Watson aconselhou ontem o governo brasileiro através do ministro da Justiça, Nelson Jobim, a intensificar a ofensiva publicitária na Europa e Estados Unidos.
Essa ofensiva teria de passar a mensagem de que, apesar de todos os problemas, o Brasil teria chances de promover uma reforma constitucional, equilibrar a economia e garantir estabilidade.
Citou como exemplo Domingos Cavallo, ministro da Economia da Argentina, que, logo depois da crise do México, saiu em périplo pelo mundo tentando afastar receios sobre as contas de seu país.
Segundo Watson, a crise do México disseminou a suspeita de que a América Latina seria um bloco homogêneo de risco. "A verdade é que existem diferenças", afirmou.
Duas delas seriam o nível de reserva e a competitividade do setor exportador, capazes de garantir mais equilíbrio na balança comercial (diferença entre importação e exportação).
Para Watson, o "prestígio internacional" de Fernando Henrique, combinado com a importância econômica de seu país, faz do Brasil um "parceiro estratégico dos Estados Unidos".
Um parceiro que, segundo ele, não se limitaria a ações no hemisfério, mas envolveria questões mundiais. Watson citou a presença do Brasil nas forças de paz da África e debates sobre uma nova ordem econômica.
Seria muito difícil estabelecer a meta de integração econômica das Américas, acrescentou Watson, sem um papel decisivo nas negociações do Brasil, maior potência econômica da América Latina.
Esse foi um dos motivos para que, no final do ano passado, durante o encontro dos presidentes das Américas em Miami, se começasse a articular uma visita de Estado (categoria mais alta de visitas de governantes) aos EUA.
A imagem de Fernando Henrique no governo americano é, segundo ele, "ótima". Existe confiança de que ele estaria disposto a flexibilizar a economia, privatizar, reformar a Constituição, atrair o capital estrangeiro.
Ele admite pontos de divergências -Lei de Patentes e elevação de tarifas. Mas se diz convencido de que são problemas provisórios.

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