São Paulo, quinta-feira, 20 de abril de 1995
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Número de miseráveis cresce 42,2% em SP

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Erramos: 22/04/95
Em alguns exemplares do caderno Cotidiano de 20/4 o quadro "Divisão da População em 4 Grupos Sociais - 2" foi publicado duas vezes à pág. 3-1.
Número de miseráveis cresce 42,2% em SP
Os anos 1990-1994 derrubaram a índices alarmantes as condições de vida de todos os grupos sociais na Grande São Paulo. A crise abateu sobretudo os mais pobres.
O número de famílias vivendo em situação de absoluta miséria cresceu 42,2% nesse período -cinco vezes mais que o crescimento da população.
Em 1990, eram 450 mil famílias miseráveis. Hoje, são 640 mil, ou 2,3 milhões de indivíduos carentes em tudo: não ganham o suficiente para uma cesta básica (R$ 49,87 por mês), estão desempregados ou vulneráveis no emprego, estão fora da escola ou não foram escolarizados e moram em condições de total precariedade.
Os dados aparecem na Pesquisa de Condições de Vida da Grande São Paulo divulgada ontem pela Fundação Seade (instituição estadual dedicada à análise de dados). Foram 3.600 famílias visitadas por 200 técnicos comandados pela socióloga Annez Andraus Troyano.
Quando se leva em consideração apenas a renda -comparados com os números de 1990-, os resultados são inquietantes: o número de famílias da região metropolitana vivendo abaixo da linha da miséria passou de 39% em 1990 para 47,3% em 1994.
Em números absolutos, são 2,08 milhões de famílias -ou 7,7 milhões de pessoas- classificadas de pobres ou muito pobres. Os primeiros conseguem comer mas não ganham o bastante para cobrir os gastos com bens e serviços. Os outros não ganham os R$ 49,87 per capita necessários para uma cesta de alimentos.
Na outra ponta a pesquisa revela que o grupo dos que ganham mais aumentou em 5,8%. "Os extremos cresceram, o que não é uma boa notícia", diz o economista Pedro Paulo Martoni Branco, diretor-executivo do Seade.
As disparidades se acentuaram em várias frentes. Os mais pobres do grupo D ganhavam R$ 26,00 por mês em 90. Hoje ganham R$ 14,00. A diferença entre os maiores e menores salários, que era de 21 vezes quatro anos atrás, agora é de 31 vezes.

Renda despencou
Diante de um quadro de recessão e desemprego, só o nível de educação e saúde não despencou. São, justamente, os setores em que o governo tem maior participação. "O Estado se colocou como um anteparo à população mais miserável", afirma Branco.
Nos setores em que o cidadão se viu sozinho diante da crise, as condições de vida caíram. A renda familiar e a inserção no emprego foram os itens mais atingidos. No total, a taxa de desemprego passou de 9,6% para 14,2%. Entre os miseráveis, os desempregados passaram de 18,1% para 24,6%.
Também no grupo A -em que quase não se registram carências-, a taxa de desemprego cresceu de 3,8% em 90 para 6,2% -um aumento de 65%.
Para fugir do desemprego, 15,3% dos chefes de família desse grupo "viraram" empregadores, abrindo empresas, negócios familiares ou se tornando profissionais autônomos. Em 90, os empregadores eram 8,9%.
O desemprego atingiu especialmente menores de idade. Entre crianças e adolescentes de 10 a 17 anos, a taxa saltou de 27% para 41,6%. "O desemprego registrado em 92 e 93 foi a maior determinante do empobrecimento", observa o economista Paul Singer.
A pesquisa será completada em dois meses com um diagnóstico do interior do Estado. "O raio X está pronto", diz Annez. "Cabe agora às lideranças -governo, empresários, entidades- cumprirem sua parte", completa Branco.

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