São Paulo, quinta-feira, 20 de abril de 1995
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Ato é resposta ao sítio que governo sofria

CLÓVIS ROSSI
DA REPORTAGEM LOCAL

Na prática, o sítio decretado pelo governo é resposta ao sítio que o próprio governo vinha sofrendo, em três frentes diferentes.
A primeira e mais importante era o movimento sindical, em especial o dos professores, em greve há seis semanas, reivindicando melhores salários.
Na esteira da greve dos professores, a COB montou uma greve de fome e promoveu protestos que, quase todos os dias, terminavam em conflitos com a polícia.
No fundo, trata-se de uma queda de braço entre governo e movimento sindical não apenas em torno de salários. A COB rejeita o plano de privatização de estatais lançado pelo presidente, com o nome de "capitalização".
Trata-se de permitir que investidores estrangeiros fiquem com a metade das ações das estatais (e 100% das ações com direito a voto) em troca de investimentos.
Os outros 50% seriam doados aos cidadãos bolivianos, individualmente, para formar um fundo a ser usado na aposentadoria.
A COB rejeita uma nova lei de "participação popular", apontada como uma maneira de o governo quebrar a força dos sindicatos.
O segundo cerco ao governo vinha dos plantadores de folhas de coca, da qual a Bolívia é um dos principais produtores.
Programas sucessivos de erradicação da coca enfrentaram resistência dos pequenos camponeses, que lucram três ou quatro vezes mais com o plantio -comparado com culturas convencionais.
Os plantadores programavam manifestações, com bloqueio de estradas, contra mais uma tentativa de erradicar o plantio.
Finalmente, o governo enfrentava uma mini-rebelião no Departamento (unidade administrativa similar a Estado brasileiro) de Tarija, na fronteira com a Argentina.
Lideranças locais haviam nomeado autoridades próprias, desconhecendo o governo central.
Todos esses problemas refletem a inquietação social com o fato de a estabilidade econômica não ter se traduzido em crescimento.
O modelo neoliberal adotado por Sánchez de Lozada, desde que era ministro do Planejamento, acabou, em 1994, criticado pela cúpula da Igreja boliviana, que pediu políticas "mais humanas".
A resposta do presidente veio agora, mas muito longe da direção defendida pela hierarquia católica. (Clóvis Rossi)

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