São Paulo, quinta-feira, 20 de abril de 1995
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Sindicatos combatem o sistema

NEWTON CARLOS
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

A Bolívia assiste a mais um lance do violento duelo, começado em agosto de 1985, com o início do "ajuste estrutural", entre o governo e entidades sindicais historicamente combativas, como a COB e organizações camponesas.
Tropa de choque da revolução "nacionalista e popular" de 1952, depois da mexicana a segunda mais importante acontecida na América Latina antes da cubana, e mentora de tentativas de transformar a Bolívia em país socialista, a COB logo jogou-se contra o programa acusando-o de "extremamente liberal e contrário aos interesses dos trabalhadores". Greve geral, seguida de prisões, greves de fome e estado de sítio.
O presidente na época, Victor Paz Estensoro, agora em campo oposto ao da COB, acabou conseguindo apoios surpreendentes, como o da Igreja Católica. "O governo quer que a autoridade seja respeitada e assim deve ser", disse o arcebispo de La Paz.
A dura reação oficial e o fracasso do protesto golpearam a COB.
Apesar dos tremores de 1987, provocados por crise financeira, o ajuste, responsável por quedas verticais de inflação, continuou sendo aplicado com rigor pelo novo governo instalado em 1989.
Em 1993 elegeu-se Gonzalo Sánchez de Lozada, se dizendo "nem de esquerda e nem neoliberal" e manifestando disposição de negociar com todas as correntes.
Para ganhar, Sánchez fez populismo, entregando a vice-presidência a um político de descendência indígena, do movimento Tubaj Katari, suspeito inclusive de ligações guerrilheiras.
Embora com apoio precário no Parlamento, Sánchez seguiu com seus projetos de reforma do Estado e privatizações de grandes estatais.
O ano de 1994 terminou com inflação abaixo de 10%. Mas também permaneceram altos os custos sociais. Calcula-se que 30% dos bolivianos são obrigados a viver de contrabando e tráfico de drogas.
O salário mínimo é de US$ 44 mensais e o governo promete aumento 7,5%, considerado "irrisório" pela COB, diante de cesta básica familiar custando US$ 380, segundo a central sindical.
Com o recuo dos partidos de esquerda e sindicatos, a oposição adotou passeatas e greves de fome. As tensões sociais se agravaram a partir de 14 de março, com paralisação por tempo indefinido de 70 mil professores, que acusam o governo de "colocar a educação a serviço do neoliberalismo".
Uma semana depois, o Exército ocupou as ruas de La Paz e prendeu quase cem pessoas. A COB convocou protestos, afirmando que fora decretado "estado de sítio de fato" e determinou greve geral, enquanto a Confederação Sindical Única dos Trabalhadores Camponeses prometia bloquear o acesso a La Paz e outras cidades.
O novo lance do confronto "sindicatos versus neoliberalismo" acontece em cima da publicação dos termos de privatização das maiores estatais bolivianas.

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