São Paulo, quinta-feira, 20 de abril de 1995
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Conflitos étnicos e religiosos marcam o país

CLAUDIO GARON
DA REDAÇÃO

Disputas étnicas e o enfrentamento entre posturas laicas e religiosas marcam a história da Turquia desde que era chamada de Império Otomano.
A península da Anatólia foi unificada no século 11 por um grupo étnico da Ásia Central. Após a destruição desse império pelas invasões mongóis, uma das dinastias locais, depois hegemônica, tomou o nome de otomana, a partir de Osman 1º, seu primeiro líder.
O Império Otomano conquistou o noroeste da península e tomou Constantinopla, antiga capital do Império Romano do Oriente, em 1453 -no que se convencionou chamar de fim da Idade Média e início da Moderna.
No auge de seu poder, o império governado pelo sultão estabelecido em Constantinopla (já rebatizada Istambul) dominava grande parte do Mediterrâneo oriental, estendendo-se até os Bálcãs (Leste Europeu).
Até o início da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o Império Otomano controlava grande parte do Oriente Médio -os atuais Síria, Líbano, Iraque, Jordânia, Israel, Arábia Saudita e Iêmen.
O governo otomano, então controlado pelos jovens turcos -grupo de militares reformistas liderados por Enver Pasha, Talaat Pasha e Jemal Pasha, que tomaram o poder em 1908-, aliou-se às potências centrais (Alemanha e Império Austro-Húngaro) na guerra.
Derrotado, o império perdeu grande parte de seu território e o sultanato foi extinto.
Em 29 de outubro de 1923 foi proclamada a república sob a liderança de Mustafá Kemal -mais tarde conhecido como Kemal Atatrk, o "pai dos turcos". Em 1924, foi abolido o califado (liderança espiritual do islamismo).
Atatrk levou a capital de Istambul para Ancara e iniciou uma série de reformas para modernizar e ocidentalizar o país. Estado e religião foram separados, as mulheres foram emancipadas e o sufrágio (voto), universalizado.
Foram adotados leis ocidentais, alfabeto latino e numerais arábicos. Atatrk governou praticamente como ditador até a sua morte, em 1938.
A Turquia permaneceu neutra durante a maior parte da Segunda Guerra Mundial -só entrou na guerra contra a Alemanha em fevereiro de 1945. Em 1952, aderiu à Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte, aliança militar liderada pelos Estados Unidos).
Vizinhos e aliados na Otan, Turquia e Grécia chegaram próximos da guerra por causa da questão de Chipre (ilha mediterrânea com habitantes de origem grega e turca).
Em 1974, tropas turcas ocuparam o norte da ilha, supostamente para evitar sua anexação pela Grécia. Em 1983, foi proclamada no norte da ilha (área de maioria turca) uma república independente reconhecida somente pela Turquia.
A tensão entre gregos e turcos cresceu novamente em 1987, por causa da exploração do petróleo no mar Egeu, que banha os dois países.
Em meio a conflitos étnicos e religiosos, os militares tomaram o poder e impuseram lei marcial em setembro de 1980.
Três anos depois, o poder voltou aos civis, mas a lei marcial continuou em vigor até 1985.
A Turquia participou ao lado dos aliados da Guerra do Golfo -expulsão das tropas iraquianas do Kuait em 1991. Depois da guerra, refugiados curdos-iraquianos fugiram em direção à fronteira da Turquia.
Com o objetivo oficial de proteger os curdos, os vencedores da Guerra do Golfo impuseram uma zona de restrição no norte do Iraque, onde as tropas de Bagdá não poderiam atuar.
Os curdos tentaram formar um governo autônomo na área, mas disputas entre grupos rivais impediram a estabilização da situação.
Além disso, a presença de guerrilheiros do PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão) complica a situação.
Curdos da Turquia, os guerrilheiros do PKK lutam pelo estabelecimento de um Estado curdo independente no sudeste do país. Pelo menos 15 mil pessoas morreram desde que o PKK iniciou suas operações há 11 anos.
Em 20 de março, mais de 30 mil soldados turcos entraram no norte do Iraque para destruir as bases do PKK na região.
Segundo a primeira-ministra turca Tansu Çiller, as tropas deixarão a área tão logo as bases guerrilheiras sejam destruídas.
A incursão em território iraquiano levou o Parlamento Europeu a suspender a entrada em vigor de uma união alfandegária entre a Turquia e a União Européia (UE).
Além de aquecer a economia, a união alfandegária é vista pela Turquia como o primeiro passo para a entrada do país na UE.
Assim como a maioria dos países muçulmanos, a Turquia também assiste ao crescimento do radicalismo islâmico -que defende a união entre Estado e religião, entre outras propostas.
Nas eleições municipais de 27 de março de 94, o Partido do Bem-Estar venceu nas principais cidades, Istambul e Ancara -esta última a escolhida por Atatrk para capital de um Estado laico.
Essas vitórias dos islamitas não impediram que na contagem total dos votos vencesse a mensagem modernizadora pregada pela primeira-ministra Çiller.

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