São Paulo, sexta-feira, 21 de abril de 1995
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Papel secundário

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Chegou finalmente o dia da "photo-op", da oportunidade de fotografia do presidente Fernando Henrique nos Estados Unidos. Pena que tenha sido um dia depois do maior atentado da história americana. Fernando Henrique era o que menos interessava à televisão e à sociedade americanas, ontem.
E não começou bem, o brasileiro. Além da baixa estatura ao lado de Bill Clinton, o presidente mostrou uma insegurança que não era conhecida por aqui. Desde logo, não sabia o que fazer, para onde olhar, para que lado ir, ao desfilar diante da pomposa tropa americana no jardim da Casa Branca.
Depois, não sabia como responder, se em inglês ou em português, ao abrir a entrevista coletiva ao lado do presidente americano. Acabou por responder em português à primeira pergunta, do correspondente da Globo, justificando que a imagem seria transmitida ao Brasil.
Alguém deve ter avisado que a imagem seria levada sim ao Brasil, mas que a CNN estava mostrando tudo ao vivo, para os Estados Unidos e o resto do mundo. Na segunda resposta, Fernando Henrique já falou em inglês, mas então com uma pronúncia macarrônica.
Para acentuar as coisas, os jornalistas americanos só questionavam Bill Clinton, sem sequer notar a presença do brasileiro, e só perguntavam sobre a tragédia de Oklahoma. Nada de Brasil, o que aliás é inteiramente justificável.
Fernando Henrique só foi reagir no que é um aspecto lateral, a evidência da sua ligação preferencial com o presidente americano. A todo momento, tanto no discurso mostrado pela televisão brasileira quanto na coletiva mostrada pela CNN, Fernando Henrique e Clinton trocaram olhares de concordância e respeito.
Era a imagem do "espírito de Miami", tão citado por ambos. Na cobertura americana, até por conta dos cortes na transmissão da CNN para entrar com as imagens ao vivo de Oklahoma, foi o tal "espírito" o que mais sobressaiu, o que marcou a "photo-op".
Se é que alguma coisa marcou ou sobressaiu, diante da tragédia americana de Oklahoma. Uma tragédia que, também na televisão do Brasil, foi a manchete do dia. Até no Brasil, o papel de Fernando Henrique foi de coadjuvante.

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